Crônica da manhã
Hoje amanheci querendo perdoar. Perdoar com perdão profundo da alma. Hoje estou triste, amanheci junto com dia, o vendo chegar. Tenho uma glória dentro de mim que deseja ser só minha. De mais ninguém. Lembrei agora: hoje é dia de Clarisse, minha escritora preferida. Tem um livro dela que só leio aos sábados. E hoje é sábado. Deus hoje veio me ajudar: quando saí de casa vi um dia tão perfeito e com um sol tão diferente... Tudo escrito pela mão de Deus. Deus me deu esse dia, Ele me falou assim: Filho escreve hoje. Estou aqui. A claridade hoje está diferente. Mas no fundo sinto uma amargura de uma luta que me persegue como um leão persegue e pensa na sua presa, com seu instinto. Os animais não pensam. Eu não consigo pensar também. Estou preso em mim mesmo e preso em minhas ações. Hoje de manhã fui obrigado a escrever. O dia anterior a esse foi péssimo e ando tendo (isso mesmo é no gerúndio que falo), desconsertos emocionais e fragilidade aos baques da vida, problemas de ordem (na verdade desordem) social. Já não quero fazer parte do direito constitucional de ir e vir. Já não quero ir para não ter que voltar sem motivos para esperar uma ilusão. Existe uma estada que corre aqui nesta manhã, ando olhando meus pés. Não estou bem mesmo! Escrevo pra vê se dá certo. Se dá certo a vida. Escrever me dá a liberdade de dizer a todos sem ocupar o tempo de ninguém, nem a mim, porque, nesta manhã, o que escrevo parece que nem me ocupa. Escrevo anestesiado pelo próprio tempo, o meu aliado. Não obtenho resposta. Hoje é o resultado de ontem.
MARÇO de 2023