Parem a Terra! Quero descer! É cada doidice, que Deus me livre!
- Você soube da última?
- Da última, última; ou da última mais nova?
- Da última, que é a mais nova, você soube?
- Não chegou a tal ao meu conhecimento, não. Que eu saiba, não. Talvez tenha a tal me chegado, mas lhe não tenha eu dedicado atenção.
- Agora, não sei em que parte do planeta, não se pode usar mais carro porque o uso de carro prejudica os negros.
- Que papo é esse, Willis?!
- É uma coisa de doido, de um doido desmiolado. Coisa que vem engarrafada; e na garrafa, que a contêm, há um selo, o selo com a assinatura de um especialista qualquer, de um doutor não sei das quantas, graduado e mestrado, reconhecido internacionalmente a maior autoridade em seu campo de atuação, um senhor...
- Deixe de lero-lero, Rolando. Vá direto aos finalmentes.
- É assim: a pessoa não pode de sua casa sair de carro para ir ao trabalho, à casa dos amigos, à padaria, e a outros locais, sejam todos os locais quais forem, que estejam longe de sua casa. Tem de se deslocar num perímetro, e a pé, que possa cobrir em apenas quinze minutos.
- Que idéia doida! Meu pai mora lá pros cafundó do Judas. De baique, da minha casa até a dele, uns vinte minutos. De carro, se bom o trânsito, uns cinco. Imagine à pé!
- Danou-se. Você não poderá visitar mais o seu velhote; todo dia, não.
- Quem foi o jegue que inventou essa idéia.
- Sei lá. Não sei. Não quero saber. E tenho raiva de quem sabe.
- Não entendi o papel dos negros na história.
- Ah! Sim. Um não-sei-quem cujo nome não sei qual é, um doutor sociólogo, antropólogo, paleontólogo, biólogo, criptólogo, sei lá de que espécie ele é, um filho-da-pátria que fala pelos cotovelos, disse, num linguajar de maluco-beleza, que quem usa carro prejudica os negros porque estes não têm carro.
- Que besteira!
- O argumento do jeca diplomado é mais ou menos assim: se muita gente usa carro, e sabendo-se que o carro solta ceódois na atmosfera, o que diminui a quantidade de oxigênio à disposição dos humanos, cada humano tendo menos oxigênio para respirar, as pessoas negras morrem sufocadas.
- E as pessoas brancas não respiram, não?!
- E eu sei?! O mundo 'tá de pernas para o ar, que não entendo mais nada.
- Besteira da grossas!
- E a última...
- E tem outra última?!
- Tem. E é mais nova do que a outra.
- Diga qual é.
- Alguma inteligência banânica, no uso de sua extraordinária, fenomenal inteligência, entende que, para o bem das mulheres, é ótima uma de suas brilhantes idéias. Você imagina qual seja?
- Inventaram uma tecnologia para estocar vento?
- Antes fosse.
- Qual é, então.
- A inteligência em pessoa diz que para diminuir a desigualdade entre homens e mulheres as empresas têm de, por lei, reservar uma cota de empregos para mulheres espancadas pelo marido...
- Que papo é esse, Willis?!
- Coisa de doido!
- Quem foi o besta que teve tal idéia?!
- Não sei. Só sei que é ele um homem sério.
- Sério?! Imagine... Todo marido vagabundo, que não quer saber de trabalhar; que só quer saber de sombra e água fresca; que tem uma esposa submissa; que... Pelo amor de Deus!
- Já imaginou?! E a mulher que... Já imaginou?! A mulher pede para um homem qualquer surrá-la até dizer chega, e...
- É cada uma!
- Você 'tá bem alterado com as notícias...
- E não é para estar?! É cada uma, que, contando, ninguém acredita.
- E eu nem falei da última.
- Chega de últimas, por hoje. Pegue um copo na prateleira, torça o pescoço da loira, e encharque-se, esponja.
- Sorte nossa que ninguém nos ouve.
- Por quê?!
- E você me pergunta porquê?! Se alguém escuta você dizer-me para torcer o pescoço da loira...