Pisa pesado
Celebridades sempre nos atraem. Estar perto delas é o fetiche de muita gente. Imagine se alguma delas pisa no seu pé? O evento talvez lhe possa dar o direito de xingar, de ser mal educado, de retrucar ou trocar o pisão ... por um autógrafo, uma selfie... O que acha?
Já levei duas pisadas de famosos. Em Brasília, na fila do caixa da cafeteria do Teatro Nacional, já faz um tempo, final da década de 90. Eu aguardava a vez de pagar. Na minha frente, o José Wilker, ator global, atuando em alguma peça no famoso palco brasiliense.
Pois ao pegar seu refri, receber o troco e virar-se para sair, pisou no meu pé. Se fosse uma de minhas irmãs, iria aproveitar pra pedir um autógrafo ou até aquele pé de sapato como troféu, tipo chantagem.
Esse ator, explico só para os mais jovens, era o namorado virtual das cocotas de então. Comigo bastou o pedido de desculpas. Dele, claro!
Essa recordação me teleporta à Copa América de 1999, disputada no Paraguai. Foi quando Ronaldinho Gaúcho estreou aos 19 anos e aprovou, com um golaço contra a Venezuela na primeira rodada. Não, não fui pisado pelo atleta. É estratégia para manter a sua atenção. Sigamos em frente.
Eu participava do Escritório do Torcedor Brasileiro, organizado pelo Itamaraty, Ficamos em Ciudad del Este, sede do grupo do Brasil na fase classificatória. Tivemos pouco trabalho, porque os torcedores assistiam os jogos, passavam a Ponte da Amizade e iam comemorar em Foz do Iguaçu. Para o jogo final, em 30 de junho, fizemos as malas e ... partiu Assunção.
Falando em famosos, uma digressão: no aeroporto de Ciudad del Este, aguardando o voo para Assunção, estava a equipe de esportes da Band: Rivelino, Sílvio Luiz e Luciano do Vale. Voamos juntos à capital do Paraguai, sem autógrafo, sem papo e sem pisada no pé . Também o avião estava quase vazio.
Assunção era um burburinho só, o estádio Defensores del Chaco superlotado para a final. A capacidade oficial é de 42.354, entraram 43.000, segundo os dados oficiais. A Conmebol enviou convites para autoridades, imprensa e demais credenciados, como de praxe.
O Escritório do Torcedor foi incluído nessa "boca", afinal de contas tínhamos crachás do tamanho de um bonde. Lépidos e fagueiros, começamos a escolher de onde iríamos assistir à grande final. Só não esperávamos que as coisas mudassem em questão de minutos e voltaríamos à insigni...ficância.
Imaginem só: a Conmebol esqueceu de seus próprios dirigentes e, de última hora, num estádio e em camarotes onde não cabia mais ninguém, começou a "desconvidar", meio às pressas, por ordem de desimportância, os felizardos de plantão.
Fomos os primeiros do "pogrom" desportivo e direcionados, meio rispidamente, para uma portinhola que dava acesso às arquibancadas cobertas (menos mal), onde já não havia, literalmente, nem espaço para pisar.
Depois de nós, a Conmebol continuou expulsando gente. Sucedendo-nos na Diáspora, sobrou para Cláudio Besserman Vianna, o humorista Bussunda e a "troupe" do Casseta e Planeta, programa de tevê muito famoso na época.
Ele foi o primeiro a sair e descarregou, intencional ou casualmente, o seu peso pesado no dedão do meu pé direito, único dos meus pés que cabia na superfície terrestre naquele momento. O pé esquerdo planava como o 14 Bis procurando pousar no Bois de Boulogne. Bussunda, desalojado a contragosto, não se desculpou comigo.
Hoje, passados muitos anos, tenho de reconhecer que ele não teve culpa, mas podia ter sido mais simpático. Agora é tarde, ele se foi em 2006.
Assim a história das pisadas famosas. Quem quiser autógrafo, estou às ordens: tenho essas duas medalhas.