O MISTÉRIO DOS SONHOS
Venderam-nos falsas promessas, é óbvio. Além do sistema de educação, que no mínimo tem gosto de sector, também partidarizaram os nossos sonhos, o nosso futuro. Esperança é presa fácil da autocracia. Há muito que não a temos, temos é fome relativizada. Pobre teoria!
Deram-nos educação sem rodas e jogaram o volante do desenvolvimento nos carros. Imitam políticas [linguística e educativa] coloniais, discursos de intimidação é cereja na mente das massas, que nem água têm para cozinhar. Também é vaidade implorar o básico dos saneamentos?! A morte é mais atraente do que a vida, aqui. Com aquela, há recomeço, garantidamente. Com esta, sofrimento incessante.
Desenvolvimento é retórica do Príncipe, é hipnose para a maioria governada por quem tem acções maquilháveis. Se tudo é permitido, e a democracia?! É inútil para quem tem poder. E sonho é ferramenta de controle, arma de oligarca e autocrata para ludibriar gente inocente: enchem de sonho e esvaziam barriga e bolso. Pastores e padres também. Maldito sonho! Não sonhes, pois. Não há futuro nem paraíso. Sonhar é futuro ou prisão?!
Sonho é crença vazia, mecanismo de combate contra a revolução. Se a educação é coluna vertebral, danificá-la é viver a arrastar-se, para sempre. É abraçar miséria. E cá estamos: "orgulhosos lutaremos pela paz". Qual paz, qual nada. Não há paz onde a fome e a malária assaltam a vida de uns tantos. Aceitar a realidade é parte da revolução. Sonhar, por outro lado, é negar a realidade e, portanto, continuar a sofrer.
Mas o que faz o velho Príncipe?! O seu trabalho: endeusar a tirania. Nunca a democracia, inútil para si. Democracia também não é o que se recomenda. É retórica igual. Mas ganha nas vantagens: sabe enganar a maioria, as massas. Uma gota de exemplo: a maioria faz mais barulho — parece ser óbvio — e é fácil confundir isso com o tal "poder popular".