Eu também não vim fazer um discurso
Tem dias que o que eu faço é acordar cedo e colocar uma boa música para meus ouvidos. Junto com o café preto, a música não pode faltar: as letras, ao lado de uma melodia bem colocada, me dão um combustível a mais para enfrentar a realidade.
Mas hoje eu não vim fazer um discurso, como diria Gabriel.
Quero aqui escrever e mostrar a vocês, depois de um bom tempo sem publicar nada. Não divulguei nenhuma linha dos meus textos durante todo o 2022. Precisamente, a minha última coluna, em que compartilhei sentimentos e pensamentos em mais uma crônica qualquer, foi publicada no dia 11 de janeiro passado. Resolvi tirar um ano sabático – como se alguém se importasse com tal feito.
Não deixei de escrever – nem conseguiria, aliás. Por aqui, nas gavetas da minha mesa e nas memórias deste processador, há tantos e tantos escritos que não ousaria contar-lhes. Pensamentos que compartilhei comigo mesmo, enquanto eu me entendia mais, me dedicava mais, me expressava para meu Eu e percebia o que realmente estava à minha volta.
A verdade é que a vida nos prega peças e não estamos preparados, como sempre brandamos que sim.
O ano passado começou de um jeito avassalador – vou falar sobre mim. Foi no início dele que me vi longe daquilo que fazia desde muito tempo. Me colocaram pra correr de um lugar em que a dedicação eu fazia do meu sobrenome... E descobri: a paciência é uma virtude.
Quando a gente sai de um comodismo natural, em que somos praticamente impostos, achamos um universo que antes não avistávamos. Acredite em mim: as primeiras semanas não são mil maravilhas, mas com paciência você encontra caminhos prontos para serem desbravados, oportunidades prontas para serem exploradas, pessoas prontas para serem valorizadas, mãos que te ajudam a levantar.
Resolvi repensar tudo o que eu fazia da vida. Será mesmo que isso importa? Alguém ainda se interessa por estas linhas? Escrever pra quem? Falar de quem? Com quem? Poesia já é passado... E então fiquei um ano sem fazer um discurso.
Não volto após pedidos, cartas, e-mails de seguidores. Retorno, pois entendi que é isso o que sei fazer! O ano de 2023 significa 14 anos da minha vida – praticamente metade dela – fazendo o que eu gosto: escrever a qualquer leitor que chegou até estas linhas. Também faço questão de voltar, pois, me pedem os sentimentos que necessito colocar para fora.
Quero falar da amizade. Sem ideologias baratas ou relações estremecidas. Nestes meses passados, eu entendi o valor dela. E me faz falta a amizade que tinha com um dos meus professores, pessoa tão conhecida nesse meio que me deu conselhos à toa. Lembro que falava para não me deixar levar a sentimentos ruins, às críticas daqueles que te condenam e não estendem as mãos para te ajudar. Ele me deu dicas valiosas da profissão, mas eu entendi que não se tratava apenas de melhorar um ofício. Amizades fazem falta. É preciso tê-las e conservá-las. É uma questão de honra lembrá-lo, meu amigo.
O primeiro livro que me dediquei em 2023 vem do meu autor favorito. Obra de Gabriel Garcia Márquez que estava há tempos no meu armário, mas faltava um tanto de vontade de conhecê-la melhor. Nesta semana, nos abraçamos.
O livro ‘Eu não vim fazer um discurso’ reúne textos que Márquez declarou em toda sua vida. Sentimentos, expressões, desejos que dispersam de um simples escrito de despedida ou agradecimento. É um primoroso fruto da literatura. Uma bela fonte de inspiração.
Não me faltam palavras, nem sentimentos. Não me faltam expectativas e nem alusões.
A música termina, o café esfria. Mas as letras continuam neste breve discurso que já passa de tantas palavras.
Se você chegou até aqui, meu caro leitor, prometo continuar a escrever enquanto eu ainda persistir neste universo – que me falte muito tempo.
Um próspero ano para todos nós.