A CHAVE DOS DESEJOS
Desejos? Quem não os tem? Se você pensa que as pessoas idosas não têm mais desejos, está errado. As pessoas vivas têm desejos. Tanto quanto os jovens. O que lhes faltam, talvez, seja os meios de execução. E um pouco de coragem. Falta de coragem, no entanto, não é exclusividade das pessoas idosas. Quantos jovens conhecemos a quem lhes falta coragem principalmente para realizar mudanças. Por que mudanças são tão difíceis de enfrentar?
As pessoas idosas são as mais resistentes às mudanças? Não tenho competência técnica para me aprofundar na questão, mas a gente vê como as dificuldades de enfrentar o diferente e as mudanças são tão grandes. Talvez seja uma questão a ser aprendida ao longo da vida. Porque mudanças acontecem, queiramos ou não. Durante a minha vida, que já chega a sete décadas, tive que me adaptar a novas realidades, sempre. Mudanças de emprego, por procurar melhores condições de trabalho, o que levava a mudanças de endereço, foram uma constante em minha vida.
Desde minha saída da casa de meus pais, aos vinte anos, já residi em nove cidades diferentes, seis no Brasil e três na França. Se mudo a configuração, de cidades para endereços, o número chega a vinte e nove endereços diferentes em cinquenta anos. Apenas em Belo Horizonte tive catorze endereços diferentes. Sou um ser mutante, pelo menos no que se refere a endereços. Isso não é ruim nem bom, mas me forneceu diferentes experiências de vida, tornou-me adaptável a diferentes situações. Mudanças de endereço significam ter novos vizinhos, por exemplo, ter novos trajetos a seguir.
Mudar de endereço foi um desejo perseguido? Não exatamente, foram circunstanciais. O que sempre mudou, de fato, foram minhas condições financeiras, resultantes de mudanças de trabalho. Sempre procuramos as melhores situações, mas muitas vezes nos enganamos, o que também aconteceu comigo. Curiosamente, parar em algum lugar e ali esperar a minha morte não está em minha lista de desejos. A vida nômade me atrai. Logo, em minha lista de desejo está uma casa móvel, um motorhome. Só preciso convencer minha companheira a querer isso também.
Um item importante na lista de desejos das pessoas em geral, das pessoas idosas mais ainda, é o reconhecimento. Não pelo seu passado, mas pela sua experiência e sabedoria. A vida nos permitiu acumulá-las, embora alguns as tenham mais que outras. Sabedoria é uma resposta individual às experiências vividas. Sermos ouvidos é um desejo, sim. Ter nossas necessidades satisfeitas é um desejo, sim. Claro que depende da gente mesmo, de como nos apresentamos para o mundo. O que fazemos para merecê-lo? E se o merecemos, por que não o temos? Aí entra uma questão séria: das pessoas pensarem que nosso tempo passou, já demos o que tínhamos para dar, estamos na descida da montanha e que morro abaixo tudo rola. Não rola. Somos resistentes. Experimente nos derrubar e verá como ainda somos fortes.
O ponto mais importante de nossa lista de desejos está nos afetos. Sim, desejamos ser amados, respeitados e queridos. Nossa chatice nem sempre aumenta com a idade. Claro, não diminui também. Ser chato às vezes é uma necessidade para não sermos engolidos pelos sistemas. Diminuir a chatice, no entanto, é um aprendizado da vida. Ser agradável deve ser um desejo anterior a ser amado. Ter uma presença simpática e agradável e pré-requisito para ser querido. Como é possível tornar-se agradável? Cada um tem seu jeito de realizar as coisas, surpreendendo as pessoas com a generosidade, capacidade de doação e alegria. Um sorriso no rosto (e no corpo todo) conquista o coração das pessoas.
Penso que a chave para a realização de nossa lista de desejos está em nossa apresentação, ao que hoje chamamos de marca pessoal, de marketing pessoal, para usar uma linguagem contemporânea. E essa apresentação precisa ser realizada com alegria, generosidade, compaixão, empatia e agradecimento. Conhecem aquele ditado: faça pelos outros o que gostaria que fizessem por você? Funciona sempre.