A casa com seus livros
Muito cedo adquiri o hábito da leitura. Ainda adolescente queria ler todos os clássicos e fiz muitas leituras desordenadas, sem critério nem orientação. Mais tarde, descobri a importância da releitura. Venho de uma época em que ainda não tinha internet nem outros avanços da comunicação digital, certamente isso fez do livro meu companheiro constante e fonte perene de informação, lazer e conhecimento.
Queria os livros cada vez mais perto de mim, formando paulatinamente uma biblioteca. Comecei trabalhar aos 13 anos de idade, e com parte do salário adquiria livros e tornei-me frequentador assíduo das Livraria do Luiz e Livraria São Paulo, esta última já extinta. A autonomia financeira me permitia comprar os exemplares que queria, sem necessidade de tomar emprestado a amigos ou bibliotecas. Aliás, o adagio popular ensina que no universo dos livros existem dois tolos: o tolo que empresta e o tolo que devolve. Depois de muitas perdas, hoje não empresto livro, prefiro presentear. Editores dizem que livro é o melhor presente.
Muita emoção senti quando umas dez crianças vieram ter em minha casa, a convite de minha filha Sofia, e ao se depararem com a biblioteca pularam e gritaram: “olha, aqui tem uma livraria!”. Não é de estranhar a surpresa dos pequeninos, talvez fosse a primeira vez diante de algumas estantes repletas de livros dentro de uma casa. A verticalização das moradias e a diminuição de seus espaços somados ao fato da perda do hábito da leitura, fez as pessoas preferirem a televisão ou o smartphone ao livro.
Ultimamente tenho agido – na medida do possível – como agiu Erasmo de Roterdã (1466-1536): “Quando tenho algum dinheiro, compro livros. Se ainda me sobrar algum, compro roupas e comida”. Não temo as traças nem a viúva, pois já pedi à minha esposa que quando eu morrer, não acabe minha biblioteca, vendendo-a por preço vil em um sebo qualquer. Se nenhum filho quiser herdá-la, que seja doada a uma universidade. Esse seria o posfácio da minha história.