Quebrar a urna no pau
Dentro do espírito de violência que, infelizmente, tomou conta das eleições, há um áudio divulgado pelo Telegram, onde um "líder"(?) incentiva à desordem e diz ter 70 milhões de seguidores para ajudá-lo a "quebrar as urnas no pau". Embora não tenha graça nenhuma, essa conclamação ao retorno da lei da selva me fez relembrar coisas bem mais amenas. Eram as noites de sextas e sábados em Pitangui, Onça do Pitangui, Conceição do Pará, Martinho Campos e outras cidades do Oeste mineiro.
A juventude vestia minissaia, jeans - boca de sino ou cigarrete - se penteava com laquê, Brilhantina Glostora ou Brylcreem, se bronzeava com creme de cenoura na laje de casa, enxaguava os cabelos com Creme Rinse e se perfumava com Cashmere Bouquet, Alguns já fumavam escondido e outros arriscavam uma cervejinha. Nessa época, na cidade pequena, o jovem caminhava para encontrar a turma no Jardim ou na Praça do Colégio. Ao fim e ao cabo, o objetivo central era encontrar alguém para namorar, dar uns amassos nos cantinhos do Jardim ou no escurinho da Boate.
Uma expressão que, parece, nasceu, cresceu e morreu em Pitangui era "quebrar a urna". Não, não era exatamente como a do "líder" acima mencionado. Tinha significado ambíguo, deixaria sempre o interlocutor na dúvida de até onde se tinha chegado. Em geral era um rapaz que dizia: esse fim de semana quebrei a urna. Podia significar que tinha tido sua primeira experiência sexual ou uma "atividade" naquele ramo depois de muito tempo. Essa gíria logo passou para o ambiente feminino e as mais avançadinhas também anunciavam:
- Este fim de semana vou quebrar a urna.
A verdadeira extensão da "quebra" ficava no ar e só às amigas e amigos íntimos contavam-se os detalhes. Numa época ainda puritana por aquelas bandas de Minas era melhor sugerir que afirmar.
Quanto às urnas eleitorais mencionadas no começo, vamos torcer para que sejam respeitadas e não quebradas nem "no pau" nem de outra maneira. Parece não ser uma boa ideia.