A popularidade do Chaplin e a popularidade do Einstein.
São Chaplin e Einstein dois personagens igualmente populares, rivais de Pelé, de Elvis, de Marilyn. Digo igualmente populares porque é praticamente impossível se mensurar a fama universal de cada um deles, e compará-las. Trabalho infrutífero, infértil. Dedicar-se à tal exercício, perda de tempo, insanidade. Há quem diga que é dos dois o Chaplin o mais popular; há quem diga que é o Einstein. Eu é que não irei me envolver em tal contenda. Que nela se imiscuam aqueles que, sendo brancos, que se entendam. Não irei gastar a minha beleza com tal questão. São Chaplin e Einstein igualmente famosos. E ponto final. Mas, pergunto-me, porque são os dois homens, sendo tão diferentes um do outro, e tendo exercido profissões tão distintas, tão populares, tão queridos, tão amados, tão admirados. Do Chaplin podemos conhecer, e entender, e admirar, o trabalho, todos os seres humanos, para tanto bastando assisti-lo às películas que ele anima com sua graça incomum, que só encontra rivais no Harold Lloyd e no Buster Keaton. Mas do Einstein uma fração da humanidade entende o trabalho. Muitos dos que o leram, acreditando que o tenham entendido, não o entenderam, e os que o entenderam, poucos, não se fizeram entender, ao dele falar a respeito, pelos outros bilhões de seres de sua espécie. Que Chaplin seja popular é compreensível. Mas a popularidade do Einstein é um enigma. Todos entendemos o Chaplin; poucos de nós entendemos o Einstein. Porque entendemos o Chaplin o admiramos. Porque não entendemos o Einstein também o admiramos.
Reza a lenda: um dia, encontraram-se Einstein e Chaplin, e o cientista disse para o ator: "O que mais me admira na sua arte é a universalidade. Você não diz uma palavra e, ainda assim, todo mundo o entende."; e o artista para o cientista respondeu: "É verdade. Mas sua fama é ainda maior: o mundo admira você sem entender uma palavra do que você diz." Nesta lenda está a chave do mistério que envolve a popularidade dos dois personagens. Ou não.
As duas estampas, a do Chaplin e a do Einstein, são reconhecidas, por qualquer pessoa, em qualquer universo, desta e de outras dimensões. A do Chaplin a roupa surrada, a bengala, o chapéu; do Einstein, a cabeleira despenteada. E que cabeleira!