A Ucrânia invadiu o Brasil.
Ao ler, há poucos minutos, o título de uma reportagem, assustado, e surpreso, suei frio, arregalei os olhos. E caiu-me o queixo. E arrepiaram-se-me os cabelos. E enregelaram-se-me os ossos, a ponto de trincarem-se. Meu Deus! exclamei de imediato, e pus-me, erraticamente, a pensar, os pensamentos, que me torvelinhavam na cabeça, que dava-me pinotes, e piruetava, e cambalhotava, a me atormentarem a ponto de estourarem meu cérebro, que fervia tal qual uma vulcão na iminência da erupção.
Eis o título, que tanto me preocupou, da reportagem: A Ucrânia invadiu o nordeste. Assim que o li, tratei, açodado, e célere, de acessar a reportagem. O sinal da wi-fi, enfraquecido, pôs-me em polvorosa. Eu, ávido por detalhes acerca das razões que levaram a Ucrânia a invadir o Nordeste, e incapaz de acessar a reportagem! Enquanto aguardava, ansioso, tenso, e trêmulas as minhas mãos, e eu a roer, de ansiedade, as unhas, o sinal de wi-fi permitir o meu acesso à reportagem, eu me perguntava o que fizeram meus compatriotas sergipanos, cearenses, pernambucanos, enfim, todos os povos do nordeste brasileiro, aos ucranianos, obrigando-os a invadirem o Brasil. E abriu-se a reportagem, que pude, agora, acessar livremente. E pus-me a lê-la, atentamente, na mão direita o celular, a roer as unhas da mão esquerda, a tensão a consumir-me, reportagem que me havia, assim que lhe li o título, arremessado para trás, como se um míssil me houvesse atingido o peito. E colhi as informações, que ilustravam o episódio, informações que mo esclareciam, e que me provaram, para a minha alegria, para a minha felicidade, para o meu contentamento, que eu estava em erro, ludibriado pela leitura apressada e incorreta do título da reportagem, que trazia a seguinte notícia: a Ucrânia, numa contra-ofensiva ao avanço russo, invadiu, no nordeste da Ucrânia, a região de Kharkov, recuperando-a - tudo indica, momentaneamente - das mãos dos russos. Em outras palavras, a Ucrânia invadiu o nordeste de seu território, e não o do Brasil. Desenhando: a Ucrânia invadiu o nordeste da Ucrânia, e não o Nordeste, assim, em inicial maiúscula, do Brasil.
Ufa! Que alívio! Eu já estava me preparando para a guerra.
Que todos os país tenham o seu nordeste eu sei, mas Nordeste só o Brasil tem.
O caso me fez evocar um querido parente meu, já falecido, e que Deus o tenha, que certa vez surpreendeu-se com uma informação de uma notícia que ouvira de uma rádio. A notícia trazia o seguinte: no norte de Minas Gerais, um desbarrancamento ceifou a vida de não sei quantas pessoas. O meu parente, surpreso, comentou: "Norte de Minas?! Eu não sabia que Minas tem norte. De Minas eu só conheço o sul, o Sul de Minas." Ponho Sul de Minas com iniciais maiúsculas, para exemplificar o caso, e porque Sul de Minas já se tornou um nome próprio.