Antologia
Eu ando pelas ruas e a cada olhar enxergo cenas do filme que ainda não filmei.
Quando a neblina toma conta da cidade, e as luzes do semáforo se espalham em uma refração que jamais saberei explicar, eu vejo um desenho de luz que será o cenário de uma tomada dramática, simbolizando todo sofrimento e desgaste de meu personagem.
Me apaixono por cada carro que passa exatamente onde deveria ser, e cria o pano de fundo para a cena que sempre sonhei em filmar, com um forte apelo artístico, quase uma releitura da trilogia do Amanhecer.
Em uma caminhada sem pretensão, começo a analisar os movimentos do meu corpo, e sem mudar de direção ou atitude, sinto que estou atuando em La La Land, e que a sinfonia da cidade está tocando a música da minha vida.
Percebo então que a grande obra da minha vida é uma antologia de pequenos contos, onde dores e felicidades contam uma história que não possui final, mas que mostra em detalhes como é não ser alheio aos sentimentos humanos.