DIÁRIO DE UMA PANDEMIA (Dia 30; Dia 31; Dia 32)

Dia 30

26 de agosto de 2026

Os noticiários retratam o fato em tom alarmante.

Enquanto o mal estava circunscrito à China e outras regiões orientais, o tom era apenas de preocupação. Afinal, está do outro lado do mundo!!!

Mas o mal chegou à Europa.

A China não encontrou a cura, mas encontrou a alternativa: o isolamento e a quarentena.

Tal como fez em outras épocas.

Diante de outras pestes, a alternativa não foi o enfrentamento aberto, mas o isolamento. Os chineses isolaram pessoas e colocaram cidades em quarentena.

Aprenderam isso a milhares de anos, quando inventaram a quarentena, estratégia copiada pelos europeus.

Os italianos no tempo da peste do século quatorze, popularizaram com o pomposo nome de quarentena. Como se fosse a quaresma, os quarenta dias de penitência. Como os quarenta dias de Jesus no deserto: Deus purificando-se do mal do mundo!

Mas a a justiça histórica tem que ser feita: medida medicinal vem da milenar sabedoria chinesa. Eles, em sua sabedoria, fizeram isso, em tempos remotos e reutilizaram a medida nas tempos atuais, para enfrentar esse novo vírus que se alastra com facilidade…

A estratégia dos chineses foi usada pelos italianos posteriormente, nos antigos tempos da peste negra... mas foi negligenciada nos tempos atuais. Pelo menos aqui no Brasil não funcionou, pois o garoto propaganda da presidência anda por aí se exibindo em sua motoca… e nos bares da vida, tomando cachaça com o povo...

Não houve cura, é verdade, mas as cidades, depois a região e o país em quarentena isolaram o vírus. E o vírus, isolado, foi contido. Lá entre eles: na China.

A sabedoria chinesa ensina que o bambu se curva, na tempestade, para não se quebrar com o vento passageiro. E depois de curvado, levanta-se com mais vigor. A quarentena chinesa foi o seu ato de se curvar e, em seguida, após a tempestade, reergueu-se e mostrou seu vigor: principalmente porque se lançou na busca de meios de enfrentamento do vírus

Não tarda e vão nos surpreender com um meio de superar o mal deste conturbado ano de 2026

Mas o mal chegou à Europa.

Enquanto o bambu ainda estava vergado, o mal já se tinha espalhado. Era esse seu objetivo. No tabuleiro do mundo atual, por em xeque esta sociedade decadente. Vencidos os peões, o rei estava cercado…

Só que a Europa, embora também uma senhora milenar, não soube se curvar. Nem absorveu a sabedoria chinesa. Pretendeu ser forte. E o mal se espalhou!

O mal, enquanto estava no oriente, era só notícias de um mundo distante.

Mas ele chegou ao ocidente.

Sorrateiro, ele migrou, da mesma forma que havia sido implantado do lado de dentro da “cortina de bambu”.

Sorrateiramente, nas malas de viagem desceu nos aeroportos.

Sorrateiro o mal se alastrou pela Europa.

Vi isso retratado nos jornais.

Vibrei.

Este mundo precisa se acabar, para que a natureza possa se recompor.

Amanhã, bem cedinho, vou fazer uma caminhada com minha vizinha.

Dia 31

28 de agosto de 2026

Tinha torcida contra e a favor.

Uns queriam que chegasse. Outros o excomungavam… o fato é que foram vários dias, de apreensão, antes do primeiro caso ser anunciado no Brasil.

Mas ele chegou, desembarcou no aeroporto e, silenciosamente, alarmou a população. Ao mesmo tempo que foi menosprezado por outros… justamente por aqueles que mais deveriam se preocupar e se ocupar em atentar para as orientações dos especialistas…

É uma gripe!

É coisa grave!

Isso é coisa da TV, pra vender notícias!

Isso é coisa séria e precisa ser levado a sério…

Mas virou piada.

Não para os profissionais da saúde, que compreenderam a amplitude das consequências para o povo… mas por parte daqueles que deveriam ser os primeiros a se preocupar com a população.

Ampliaram o descaso.

E a população, mais uma vez, se viu cercada… alvejada por dois fogos.

De um lado os tiros, certeiros e precisos da ciência médica: é grave, é mortal!

De outro lado a enxurrada de maledicência e despreparo e prepotência e arrogância e insultos à inteligência… por parte do poder público….

No centro de tudo o despreparo político do presidente fantoche.

O diabo deu posse ao seu representante em solo brasileiro. Fez dele seu presidente!

Enquanto na Itália e na Espanha morriam milhares, no Brasil o sistema de saúde tomava consciência e anunciava um caos que já era conhecido pela população.

Enquanto França e Inglaterra anunciavam medidas para enfrentar o mal, o governo brasileiro ironizava a ciência, brincando de enganar o povo.

Ao longo desses dias, eu via os noticiários mostrando essa dupla tragédia e percebia como é fácil enganar o povo. Novamente sou obrigado a concordar com o colega K. Jaspers, dizendo que:

“Muitos políticos veem facilitado seu nefasto trabalho pela ausência da filosofia. Massas e funcionários são mais fáceis de manipular quando não pensam, mas tão-somente usam de uma inteligência de rebanho. É preciso impedir que os homens se tornem sensatos”.

A consciência de rebanho é o que tem prevalecido, ao longo destes últimos dias, desde que esse mal se instalou em nosso país. O vírus, importado pelo aeroporto, espaço social distante do cotidiano do povo, evidenciou o abismo em nosso país.

Pobre povo que não tem pra onde correr nem a quem recorrer!

Ao povo sobra uma só alternativa: morrer.

Dia 32

30 de agosto de 2026

Minha primeira ação do dia foi olhar pela janela, tentando ver a vizinha.

Em seguida, tomando café, conferi as notícias estampadas nas manchetes do celular, confortavelmente deitado sobre a mesa ao lado da minha caneca preferida, cheia de café com leite.

Centenas de casos. Dezenas de mortes

Ele chegou pra ficar!

São Paulo e Rio de Janeiro lideram em número do casos, mas o mal já se alastrou por outros estados.

Em todos, a grande preocupação é uma só: o sistema de saúde não suporta um número muito grande de internações.

O sistema de saúde deveria ser melhor equipado.

A saúde pública enfrenta limitações não só em número de profissionais para atender à população, mas principalmente em falta de equipamento para a proteção dos profissionais.

O povo sente falta dos médicos cubanos.

A China sobreviveu.

Muitos morreram, mas seu sistema oficial de saúde pode contar não só com a engenhosidade de seus profissionais, mas, principalmente, com o apoio logístico e financeiro do governo central.

Um governo dito comunista, mas que sabe usar a máquina oficial no enfrentamento de problemas.

Além disso, por mais limitações que se possam visualizar naquele sistema, dirigentes, profissionais da saúde e população caminharam na mesma direção.

Algo que não se vê no Brasil. A corrupção e os interesses mesquinhos matam mais do que as enfermidades que atingem a população.

Os noticiários retratam o mal se espalhando e a disputa de egos se impondo sobre as necessidades da saúde da população.

É trágico o descompasso: cidades impondo isolamento social ao cidadãos, sem nenhum caso confirmado. Outras cidades, com inúmeros casos da enfermidade e a população agindo como se nada tivesse acontecendo.

Outro exemplo de descompasso: o sistema de saúde recomendando que as pessoas não circulem e permaneçam em suas casas e autoridades de alto escalão dizendo que não é nada, que é só um resfriadinho e que vai passar logo e que se as pessoas não forem para seus trabalhos a crise econômica será pior do que a crise da saúde… e autoridades médicas fazendo festinhas de aniversário...e confraternizações

E o povo no meio do fogo cruzado.

Pior de tudo isso é saber que em várias localidades as milicias comendam tudo. Inclusive o acesso a bairros pobre e às periferias ou favelas. Inclusive os milicianos do presidente aproveitando para faturar alto com a pandemia, desviando as verbas emergenciais, nas mutretas tradicionais.

Nessas localidades era pra existir investimentos em saneamento e bases de saúde pública. Mas o dinheiro que era para ser investido para essas melhorias, urbanização e saneamento foi desviado e os milicianos embolsonaram o dinheiro. E aquilo que poderia produzir providências para sanar os males, desaparece no ralo e o povo enrolado continua lascado.

Em todo esse tempo em que acompanhava as notícias nas páginas de alguns jornais, meu olhos se dividiam nas atenções: um olhava as notícias na tela do celular e outro olhava pela janela, querendo ver a vizinha.