Ausência de toques
Os pais saíram e deixaram o filho a tomar conta da avó, uma senhora de 94 anos.
" Serginho, cuida bem da vovó, qualquer coisa liga no nosso celular."
A casa era espaçosa, uma varanda com frente para um belo jardim. Nesta varanda estava a avó na sua cadeira enquanto o neto, Serginho, sentado numa poltrona manipulava o seu celular.
A avó quieta a observar o beija-flor no bebedouro e o neto alheio a tudo à deslizar afoitamente o dedo no celular.
Dona Maria, a avó, lúcida, de pensamentos inteligentes nada dizia, pessoa analítica:
"As pessoas andam carentes. Quem precisa de deslize de dedos, de toques são os rostos, os braços, os cabelos brancos das avós e não esta máquina , fria de tela brilhante!
Como será o mundo de amanhã quando estes jovens tornarem-se avós? Serão avós? Tenho dúvidas, há não ser que estas maquininhas produzam bebês."