Homens, não olhem para as mulheres!

Onde já se viu! Os homens olham para as mulheres! Que absurdo! O mundo está de pernas para o ar! Temos de dar fim à ousadia dos homens, que se atrevem a olhar para as mulheres sem a permissão delas! A nossa sociedade está se precipitando no precipício! Felizmente, há pessoas conscientes das ameaças que pairam sobre as nossas cabeças! Tais pessoas, visionárias, proféticas, vislumbrando o inferno que de nós se avizinha, assumindo, heróicas, as responsabilidades que delas a consciência social e coletiva exige, pedem por políticas que redundarão no fim das ações masculinamente tóxicas. Os homens não mais poderão olhar para as mulheres! Nunca mais! Os homens cobiçam as mulheres, que para eles são apenas objetos sexuais! Eles não respeitam as mulheres em sua condição de pessoas humanas! Todo olhar masculino apontado para as mulheres, intoxicado de masculinidade tóxica, tem uma conotação sexual, típica de sociedade machista que valoriza a cultura do estupro. Ontem, vejam vocês o absurdo, uma das minhas melhores amigas, mulher empoderada, graciosa, cuja beleza não corresponde à da cultura mulherfóbica vigente, porque ela, a minha amiga, não se submete ao padrão de beleza feminina imposto às mulheres pela sociedade capitalista burguesa neoliberal nazifascista e racista e machista templária neocolonial, a minha amiga, prossigo, mulher, repito, empoderada, merecedora de mulhernagens apologéticas, mulher de cabelos coloridos, vermelho, azul e magenta, de sovaco peludo, de piercing no nariz e nos mamilos, de tatuagens, nas costas, do Che e do Fidel, e, na testa, de um demônio satânico, mulher de um corpo volumosamente belo, uma heroína a, repito uma vez mais, minha amiga empoderada, que ousou, corajosamente, romper com os padrões de beleza da sociedade patriarcal opressora, sentiu, em seu corpo empoderado, de mulher feminista, os olhares de dois homens, que a cobiçavam e lambiam os beiços de desejo carnal, os dois sátiros, que resumiam, em si mesmos, toda a essência do espírito masculino, que vê nas mulheres fontes de prazer dos seus mais baixos instintos, a babarem de desejo, desnudando-a em imaginação intoxicada de masculinidade tóxica, com agressividade e selvageria animalesca, de brucutus trogloditas de uma era anterior à da pedra. Sentiu a minha amiga empoderada o sangue ferver dentro de seus vasos sanguíneos. Sanguínea, ela bufou de raiva, cravou os olhos, que chispavam o fogo da indignação, naqueles dois homo sapiens acéfalos, e, com passos firmes, que lhe eram comuns, de mulher empoderada, foi até eles, e antes de eles esboçarem qualquer reação, disparou-lhes, na lata: "Machistas, vocês nunca viram mulher!? Esta boquinha vocês nunca irão beijar! Este corpinho delicioso vocês nunca terão! E não me olhem, jamais! Eu não dei para vocês licença para olharem para o meu corpo, que é meu! Meu corpo, minhas regras! Machistas! Vou conversar com o meu advogado. Transformarei a vida de vocês dois num inferno! Machistas! Parem de olhar para mim, machistas! Vocês são surdos!? Além de podres de tanta masculinidade tóxica que há no deeneá de vocês, vocês são surdos!? Vocês não me escutaram, machistas!? Não me olhem! Não me olhem! Não dou a vocês dois permissão para me olharem! E vocês me olham com olhar de desejo carnal! Não sou um objeto! Sou uma pessoa mulher. Sei dos meus direitos! Vocês insistem em olhar para mim, e sem a minha permissão!? Mostrarei a vocês dois o que é bom para a tosse!" A coragem da minha amiga empoderada, invejável, um exemplo a ser seguido por todas as mulheres! É a minha amiga mulher de coragem extraordinária. Que todas as mulheres nela se espelhem! E o que ela fez em seguida?! Ora, ela fez o que tinha a obrigação de fazer: fotografou os dois meliantes, os dois criminosos, os dois representantes do sexo opressor, ambos intoxicados de masculinidade tóxica, os dois seres investidos de cultura do estupro, contatou, via vatis, uma organização não-governamental de defesa das mulheres, enviou-lhe as fotos, e solicitou a presença, imediatamente, de patrulheiros coletivos, para efetuar a prisão em flagrante daqueles dois energúmenos. O que foi feito em pouco tempo. Os vigilantes foram pressurosos. E a sociedade livrou-se de dois machistas, que acreditavam que poderiam desrespeitar mulheres empoderadas. Infelizmente, há muitos homens intoxicados de masculinidade tóxica, livres, por aí. Nós os derrotaremos. E ergueremos a nova sociedade, perfeita. Resistência é sobrevivência! Fascistas não passarão!