SAIA DA CENTRÍFUGA

A primeira vez que ouvi essa ordem partiu de mim mesma, no calor de uma tentativa em fazer com que a pessoa percebesse que ela estava em meio a uma confusão tão grande que teria que parar para colocar as idéias no lugar .

O olhar surpreso dela para mim foi tão direto quanto a frase que proferi . O olhar dela me perguntava , me desafiava ... Como sair ?????

Deu-me as costas e foi .

Simplesmente não toquei mais em nenhum assunto e a partir daquele momento comecei a pensar em quanto é inócuo dizer ao outro o que é melhor para ele.

Perscrutei os ensinamentos da comunicação nãoviolenta , das técnicas de mediação e dos valores que uma vida vai costurando .

E, efetivamente não encontrei uma resposta satisfatória e essa crônica tende mais para o lado do grito , do acordar , do despertar , do que propriamente solucionar ou apresentar uma técnica nova de como resolver conflitos alheios e deixá-los todos à nossa moda .

Difícil mudar a rotação das escolhas pessoais , dos anseios de cada pessoa , das angústias dos diálogos internos . Difícil desligar a tomada de uma centrífuga e deixar a pessoa caída ali , sem saída , porque parou de repente e pluftf.... foi-se .

Mais ou menos como se fosse uma esteira ( da academia de ginástica, é claro ) de repente alguém vai lá na tomada e desliga ... O tombo é quase certo !

Quando se está em alta rotatividade , com as emoções à flor da pele, adrenalina correndo pelas veias ,” mesmo que seja sangue azul , do tipo poderoso “ , hormônios produzidos em ritmo acelerado , medos desenfreados , ansiedade que antagoniza , com a inércia ou com a euforia , não se percebe nada à volta , não há ouvidos que dê conta dessa energia em alta velocidade .

Mas, pensei : sou uma mediadora , apesar das dificuldades , deve existir uma saída para que a pessoa saia desta centrífuga e lembrei-me então de várias recomendações de casos não mediáveis , será que não ?

O que podemos fazer além de nos acostumarmos a receber as pessoas em uma sala de mediação e nos voltarmos para uma realidade bem próxima : nós mesmos .

Porque quando dei a ordem para sair da centrífuga , não percebi que a ordem eu dirigia a mim mesma? E, sinceramente , estou tentando sair de muitas centrífugas que me envolvi antes de pensar que posso resolver conflitos alheios.

Acredito que encontraremos uma saída melhor que sair por aí desligando as tomadas das centrífugas alheias e achando que está tudo bem e que estamos construindo uma sociedade pacificada . Será ?

Deixo aqui o desafio .

Therezinha Henriques
Enviado por Therezinha Henriques em 13/07/2022
Reeditado em 09/12/2022
Código do texto: T7559147
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