Consciências XIX
Durante a minha infância e adolescência, meus pais tentaram me converter à doutrina católica, com direito a fazer primeira comunhão e crisma, acreditar em deus, diabo, céu, inferno, pecado, justiça divina, ir à missa e à procissão na semana santa. Pois de todas essas obrigações e inculcações bem intencionadas que me forçaram, aquela que mais marcou foi a de ir nas procissões, porque todo ano eu era praticamente forçado a acompanhá-los. Eu me lembro que, toda noite de procissão, fazia frio ou ventava mais do que o costume. Nas primeiras vezes, eu inventava desculpas para não ir e ficava com uma raiva ao ser obrigado a fazer o que não queria. Mas eu comecei a gostar de ir, de caminhar à noite junto com uma multidão predominantemente silenciosa de desconhecidos, segurando velas e lutando para que não apagassem. Me lembro especialmente de uma procissão em que acompanhei minha querida e saudosa avó materna, Terezinha. De termos caminhado juntinhos, um tentando manter a vela do outro acesa, conversando baixinho sobre assuntos triviais e vendo como são diferentes e misteriosas as ruas de noite, no início dos anos 2000. É uma doce lembrança que guardo do meu convívio com ela.