Minha vida em um cinema de rua
Eu não preciso estar a beira da morte para ver o filme da minha vida.
A minha existência criou uma locadora de filmes, com seções bem definidas, onde nenhum dos títulos se encaixaria em seções diferentes. Tive momentos de terror, mas que não envolviam amores verdadeiros. Já meus momentos de amores reais jamais estiveram ligados a ação ou suspense, pois sempre escolhi o caminho de minha história.
Nos anos 90 sonhei com aventuras sinceras, envolvendo dinossauros e amigos, impulsionado pelo sonho de viver uma vida leve, como aquela que tive. Já no século XXI eu estava imerso em uma descoberta capaz de criar os plot twists mais incríveis do cinema, mas que se mostrou a razão de um sofrimento moderno. Eu conheci a internet.
De fato ela mudou a mim, mas também ao mundo. Momentos reais de alegria na seção de romance, onde sonhei que viveria como Amélie Poulain, mas acabei como Joey, onde em um momento de profunda tristeza, quis apagar da minha mente qualquer vestígio das pessoas que já não convivia mais.
Não culpo a modernidade por trazer amore líquidos, pois cada um deles foi um importante ato rumo ao encerramento desta trilogia. Na infância fui leve, romântico sem saber que era, e inocente em pensar na vida adulta. Já na maior parte do existir, eu demorei para encontrar o meu gênero, porém acabei por aceitar viver em um filme biográfico, que tem sua exibição de gala em um cinema de rua. Já o final é um roteiro em aberto, colaborativo, e confuso, mas que insiste em me emocionar mesmo sem ainda ter sido filmado.