TOMATE OU CHOCOLATE?

Marcos recebeu seu salário e foi ao mercado para fazer as compras do mês. Ele havia pensado em tudo: fez uma lista com os alimentos mais saudáveis, porque decidiu se tornar fitness. Seu próprio médico o alertou sobre os perigos de consumir alimentos industrializados com frequência e, Marcos, sendo um homem sensato, deu ouvidos ao doutor. No entanto, quando se deparou com as prateleiras de cereais, frutas, legumes e a de guloseimas, uma enorme dúvida pairava sobre sua cabeça: Tomate ou chocolate?

Enquanto seu bolso dizia ‘chocolate’, sua saúde pedia ‘tomate’. Diante disso, Marcos começou a pesar os pós e contra de cada um. Ora, se ele comprasse os industrializados, economizaria tempo e, às vezes, dinheiro. Se comprasse os vegetais, sabia que os consumiria apenas uma vez, em um único dia da semana. O problema é que a maioria dos meses tem 31 dias. Conseguiria comer tomate em todos eles?

Marcos se sentiu pressionado.

Ele queria saúde, o mercado queria dinheiro e seu estômago queria comida, independente de qual fosse. Para resolver esse problema, Marcos comprou alguns legumes e várias comidas industrializadas (estavam mais em conta e durariam o mês todo).

Dessa forma, sua alimentação saudável durou apenas uma semana e ele passou a consumir alimentos mais gordurosos. Havia comprado açúcar refinado porque era mais barato do que o demerara, que era o mais saudável. Comprou pão em vez de frutas, queijo branco e iogurte, porque durariam apenas por alguns dias e estavam mais caros. Comprou bolacha recheada em vez de biscoito diet. O leite então, ele nem comprou. Nesse caso, não importava se era semidesnatado, desnatado, integral, em pó ou 0% lactose. O preço era salgado. Mas seu bolso era doce e entrava em depressão toda vez que ia fazer compras. Marcos pensou “o problema do mercado é que ele não considera que seus clientes têm outras contas a pagar, como água, luz, internet, aluguel etc”.

Pior era a sensação de impotência toda vez que voltava ao médico e ouvia que precisava se alimentar melhor.

– Melhor como, doutor? O mercado não quer eu me alimente melhor – comentava ele.

O médico, na maioria das vezes, ficava calado. Talvez, porque no fundo ele sabia a verdade: nem todos podem viver bem e não é nem por falta de vontade, é falta de dinheiro.

Como um agravante da situação, o chefe de Marcos lhe negava um aumento de salário toda vez que ele pedia e ainda ria de sua cara.

– Pra eu amentar seu salário, você teria que trabalhar mais – dizia ele.

Mais? Marcos trabalhava 12 horas por dia, com folga uma vez na semana e raramente caía no domingo. Tempo para a família? Não tinha. Entretenimento? Não tinha. Planejava fazer mil coisas em suas folgas, mas tudo o que conseguia fazer era dormir e, quando necessário, ir ao mercado.

Não era a toa que Marcos ficou doente e precisou ser internado com hipertensão, diabetes e outra série de problemas agravados. Praticamente deve um infarto. Dinheiro para exames? Não tinha. Dinheiro para convênio? Não tinha.

Por causa dessas coisas, Marcos veio a óbito, em um corredor frio de um hospital qualquer (porque não havia leito o suficiente). Parentes e amigos compareceram ao funeral, perplexos e muitos sem entender como alguém tão jovem (uns 30 anos) faleceu tão prematuramente. Por isso, no dia do enterro, houve muitas especulações. Morreu de quê? Alguns diziam diabetes e outros, câncer. Mas os mais íntimos sabiam que era de mercado.