CONSIDERAÇÕES SOBRE O SAGRADO
Não acho correta a ideia de se ter o monopólio da verdade. Qualquer verdade. Por isso sou oposição a quem diz que tem a fórmula de Deus, qualquer forma de Deus. É quando o homem exerce sua maior arrogância, de se nominar mensageiro, corretor, tradutor de suas vontades, fiscal de suas leis, arauto de sua poesia. Sou da tese de que o atravessador é o deselegante corvo que, ignorante de toda a beleza, tenta dar nome e sentido numeral a tudo aquilo que não foi feito de matéria de se decifrar.
São tão cafonas com seus crachás, seus títulos e suas credenciais. São papeis de letras mortas, terras inférteis. Vestem paletós e se enforcam com gravatas, para que pareçam algum tipo de autoridade. E não se sabem ridículos, não se sabem dispensáveis. Não se sabem aquele tipo de arlequim em festa errada.
Constroem catedrais de tijolos para encastelar Deus. Escrevem manuais para que Deus possa ser todo explicado. Aprovam leis para que, Deus seja imposto e os rebeldes, condenados. São homens estranhos.
Em qualquer hierarquia pesam menos que flor e bicho. Suas explicações, sem grão de poesia, é uma palavra murcha, despida de matéria, de vento criador. Sequer consola ou faz assepsia. É apenas um tipo de trovão, que só apavora, sem qualquer anunciação.
Eis o sagrado: aquilo que de tão belo, ainda não se vê; de tão alto, ainda não se mede; de tão perto, não se aparta do olhar de qualquer menino, seja ele homem ou mulher.