Sábado do Juízo
No dia de meu juízo final
Abrirei uma garrafa
Do mais puro amargor
Que misturando-se ao de minha boca
Lugar algum nesse mundo será igual
Ao fel de descrença e desesperança
Do que no ar daquele quarto escuro;
Antes, três respiros
Com o pouco de oxigênio que me resta
Iludido pelo amor humano da vida
O ar quase me falta
Em saber dessa farsa
Da prosperidade e compaixão dos humanos
No segundo respiro
Ajustei melhor meu corpo
Por acreditar ser um respiro jocoso
Sem sufocar-me
Vi a natureza exuberante
Sorrindo do meu final
Onde folhas secas alçavam-se ao ar
Formando uma espécie de julgamento
No qual o réu não entendia
Os sinais das folhas
E a cada tentativa de defesa
Com as mãos atadas
Por um cipó vivo
Afundava num pântano
De cadáveres
Um pesadelo
O respiro final o mais curto
Não me vi imagem e semelhança de ninguém
Se concretiza a vida ilusória