Sábado do Juízo

No dia de meu juízo final

Abrirei uma garrafa

Do mais puro amargor

Que misturando-se ao de minha boca

Lugar algum nesse mundo será igual

Ao fel de descrença e desesperança

Do que no ar daquele quarto escuro;

Antes, três respiros

Com o pouco de oxigênio que me resta

Iludido pelo amor humano da vida

O ar quase me falta

Em saber dessa farsa

Da prosperidade e compaixão dos humanos

No segundo respiro

Ajustei melhor meu corpo

Por acreditar ser um respiro jocoso

Sem sufocar-me

Vi a natureza exuberante

Sorrindo do meu final

Onde folhas secas alçavam-se ao ar

Formando uma espécie de julgamento

No qual o réu não entendia

Os sinais das folhas

E a cada tentativa de defesa

Com as mãos atadas

Por um cipó vivo

Afundava num pântano

De cadáveres

Um pesadelo

O respiro final o mais curto

Não me vi imagem e semelhança de ninguém

Se concretiza a vida ilusória

Baltasar Garcia
Enviado por Baltasar Garcia em 14/05/2022
Código do texto: T7516191
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