É tempo de agradecer
Desde os tempos mais remotos os seres humanos promovem rituais de sacrifício para aplacarem a ira do poder divino ou para alcançarem dele favores.
O professor Hermógenes suscita a possibilidade dessa ter sido a primeira oportunidade para o ser humano treinar o desapego, e mais que natural que lhes fossem exigidos de alguma força divina, os animais, já que para os homens primitivos os animais que criavam representavam bens de grande valor.
Acho que a partir daí já começaram os equívocos, uma vez que os homens entendiam que eram os deuses que desejavam os animais. A velha mania de considerar que qualquer circunstância conflitante é responsabilidade de outro. Os deuses não precisavam nem da carne e nem do sangue de nenhum animal. Era mais provável que fossem os homens que precisassem deixar de ser mesquinhos e apegados.
Os cristãos encaram o sacrifício crístico como o instrumento para a remissão do pecado original. Daí o raciocínio é mais ou menos assim: Se alguém se sacrificou por mim e tirou das minhas costas o peso do pecado original então... Mas que maravilha! Simples não? Na realidade muito cômodo. Principalmente para uma instituição que tratou de intermediar o processo remissivo.
Não, eu não acredito que seja tão simples, mas também não acredito que seja conveniente levantar polêmicas nesse campo.
Jesus faz parte de uma categoria diferenciada de seres que já caminharam sobre a terra. Ele mostrou que mais do que oferecer “coisas”, era preciso oferecer a si mesmo. É a renúncia completa do Eu. O absoluto e nobre “desapego”.
A renúncia completa do Eu conduz diretamente ao divino, mas para nós, que não somos iluminados, o que resta? Chegamos então ao ponto.
Nos resta tentar praticar a mais sublime “GRATIDÃO”. Ser capaz de expressar a autêntica gratidão gera circunstâncias que para nós, pessoas comuns, podem ser vistas facilmente como milagres.
Confúcio, referindo-se aos rituais religiosos orientais, afirmou o seguinte: “Aquele que compreender plenamente este sacrifício poderá reger o mundo como se o girasse em suas mãos”.
Esta afirmação é extremamente profunda e encerra um fundamento que foi praticamente um enigma até hoje, que é o aspecto sacrifical, o que ele é realmente e o que dele resulta. Acredito que todo o mal entendido criado em torno do sentido da palavra sacrifício se deva ao fato de associarmos a ela imediatamente a idéia de sofrimento, mas o sacrifício, neste caso específico, diz muito mais respeito à abnegação, ao desapego e à gratidão.
Na realidade, tudo na natureza se sacrifica a todo momento para celebrar vida, para vivificar uma outra coisa.
Não é à toa que Jesus também tenha afirmado acreditar ser difícil um rico entrar no reino dos céus. Existe uma diferença substancial entre agradecer a Deus pelos ótimos lucros do período, recostado confortavelmente em uma poltrona de couro e sentir-se profundamente agradecido, apesar de toda privação, pelas roupas obtidas através da caridade alheia e pelo prato de comida providencial.
Existe uma passagem em Marcos, na qual Jesus encontrava-se sentado diante do Tesouro do Templo a observar o povo a jogar moedas no Tesouro. Ele notou que os ricos jogavam grandes somas em dinheiro e que uma viúva mendiga, por sua vez, jogou duas pequenas moedas. Chamando seus discípulos, Jesus lhes disse: “Em verdade vos digo que essa viúva mendiga jogou mais que todos (...) pois todos jogaram o seu supérfluo, ela, porém, jogou tudo quanto tinha de sua pobreza, toda sua vida.” (Mc 12:41-44)
Precisamos refletir o quanto de nós mesmos sacrificamos para dar vida à tal Fé que afirmamos ter no Ser Supremo. Qual a real dimensão de nossa gratidão e o que ela é capaz de produzir em nossas vidas. Lembrem-se que o milagre é proporcional à Fé.
Mokiti Okada dizia que o coração agradecido comunica-se com Deus e o queixoso, relaciona-se com Satanás. Ele queria confirmar com isso, aquilo que todos vêm difundindo largamente hoje em dia. Que o homem depende única e exclusivamente de seu pensamento, daquilo em que foca sua atenção e nesse aspecto, o sentimento de gratidão é a melhor maneira de direcionar sua mente ao que é elevado e divino.