CRUELDADE
Vivemos,
todos os dias,
e a todo momento, em meio a uma infeliz e bizarra competição.
Ela,
esconde garrafas de vinho pela casa, muitas,
e eu,
as encontro.
Eu,
fecho a casa, escondo as chaves,
e ela,
salta pelas janelas.
Eu,
tiro-lhe os cartões,
e o dinheiro,
e ela,
sempre encontra mais.
A falta de lucidez,
A entrega total ao vício,
A dependência…
O fundo do poço?
A perda da capacidade de perceber a realidade ao seu redor…
A perda dos escrúpulos,
A fantasia que ganha forma.
Depois do fundo do poço pode ter um abismo.
A autodestruição,
A automutilação,
do corpo e do caráter.
É a vida que pára.
Pára e vai se perdendo.
A vida vai dando
espaço para a morte.
E a mente,
outrora ferramenta daquela,
agora está a serviço
dessa.
A morte,
nesse caso,
já começou,
de dentro para fora,
ganhando espaço,
a cada dia,
cruelmente.