O chinelo

Ainda estou na cama. Lá fora a passarinhada já está à fazer a festa. A saracura-do-mato é a mais barulhenta. O seu canto é alto, como alguém a berrar.

Está uma manhã de temperatura convidativa tipo aquela que nos amarra debaixo da coberta.

Mais vou levantar. Vou virar para a direita e encaixar com precisão os meus pés no chinelo havaianas. Tenho prazer em me virar e de primeira acertar o par de chinelos.

Me virei na cama e fui convicto com os pés em busca do chinelo. Errei. Senti o frio gelado do piso na solo dos meus pés.

Esfreguei os pés no piso , de forma desordenada à procura. E nada.

Apanhei o celular no criado-mudo para clarear. E lá estava o chinelo , passivo , me esperando.

Calcei-o e fui pra lida, convicto que a tendência daqui pra frente será cada vez mais desencontrar o chinelo.

Jorge Sousa
Enviado por Jorge Sousa em 07/04/2022
Reeditado em 07/04/2022
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