A carta que não li
Hoje senti uma grande angústia, e sabia que só colocaria pra fora escrevendo uma grande carta para ninguém. Eu não quero que leiam as minhas aflições, porque em nada ajudam, apenas me julgam por sentir demais. De tão intenso que foi, nem as palavras surgiram, e a cada linha que escrevia, apagava com veemência, pois nem pra isso sou capaz.
Passei por dias de grande pressão, o melancólico começo em um emprego, uma convivência difícil, e uma dúvida no rumo da vida. Tudo é passageiro, mas o fato é que sentimentos afetam o nosso existir, e nos tratam como cobaias de um experimento cruel.
As coisas que fogem do meu controle não deveriam me afetar, e talvez sejam tão alheias a mim, que nem o mais íntimos dos meus amigos saberia que me importo.
Recorro a coisas simples que poderiam me ajudar: uma música, o céu estrelado, rever um filme pela décima vez, ou uma máquina do tempo para mudar tudo que fiz na vida.
Mas entendo que o que foi vivido me criou, e que sonhos que não vivi são apenas projeções do que eu desejava.
No final das contas, faltou-me palavras para escrever uma poesia, mas em um momento de raiva, onde o teclado ecoou os toques de meus dedos afoitos, escrevi a carta que tanto precisava. Eu não vou ler, pois nem a mim cabe julgar as minhas escolhas.