Batuque na cozinha (III)
Miloca e Águia Negra estão tirando a maior onda em Marechal Hermes como bolivarianos de primeira hora entre nós. Pelo jeito, nem desconfiam que o próprio Hugo Chávez já declarou que ainda não existe uma teoria bem-acabada do que ele chama de "socialismo do século XXI", que só virá com o tempo. Daí, talvez, a necessidade de ser mantido indefinidamente no poder a fim de conduzir a transição do seu país para o novo regime e consolidá-lo. De referendo em referendo dá para chegar lá.
Águia Negra, não sei; mas Miloca não me engana.
Receio que o seu inopinado bolivarianismo, apesar de leitora-carpideira da Fenomenologia do Espírito, de Hegel, precise de menos consciência feliz e mais vergonha na cara, com todo o respeito. Haja vista que ainda na véspera de nossas últimas eleições gerais, em conversa comigo no Boteco do Morrinho, próximo ao Campo dos Afonsos, disse-me com todas as letras que não votaria em Jandira Feghali porque esta não acreditava em Deus. Aliás, naquela tarde, copiei num guardanapo de papel as palavras exatas que usou: "Eu ia votar na Jandira, mas depois vi na internet que ela é a favor do aborto e contra a existência de Deus."*
Esse contra é uma delícia.
Ou seja, o fato de o PCdoB ter comprado o barulho do velho coronel venezuelano não foi capaz de destruir em minha doce amiga, a um só tempo católica e mãe-pequena nagô, esses dois preconceitos burgueses (palavra de Miloca).
Está muito confuso. Vão me perdoar esses dois, mas sem a distribuição de uma cartilha bolivariana, provisória que seja, fica realmente difícil saber quem são e o que querem os novos socialistas.
Aguardemos a cartilha.
*De fato, a campanha contra Jandira através de mensagens eletrônicas um dia antes da votação foi uma covardia.
[23.11.2007]