Acreditem: eu sou uma índia!
Meu avô paterno, que ainda está vivo, quando estava mais lúcido, sempre dizia, com veemência, apesar de ser bastante patriarcal e conservador: “Não tenho vergonha de falar: sou descendente de negro e de índio!”. Além dessas duas etnias, nos antepassados do meu avô ainda se incluem europeus oriundos de cerca de cinco países diferentes, como Portugal, Itália e Holanda. Bem, se só do meu avô eu tenho toda essa herança genética, posso dizer que sou uma brasileira típica: bem miscigenada!
Meu tipo físico é mais europeu, talvez tenha algo de afro nos meus cabelos, que são levemente cacheados, mas também não nego minhas raízes: assim como meu avô, tenho muito orgulho de minhas origens. Já de índio não tenho nada, só a alma: quando adolescente, a civilização me enojava, morria de vontade de ir morar no meio de uma tribo qualquer dentre as muitas (ainda existe um número considerável, apesar da maioria ter sido dizimada e só existir atualmente nos genes dos, como eu, miscigenados) que existem no Brasil.
Bem, passei a me habituar à vida civilizada, em parte, mas ainda resta em mim uma grande admiração pelos povos indígenas brasileiros: sua culinária (nada melhor que uma tapioca!), seu artesanato, sua relação harmoniosa com a natureza, enfim, toda a sua cultura, que é fascinante. É uma pena que esses povos (tão influentes e importantes na cultura brasileira) sejam tão maltratados: deveriam ser tratados com mais respeito e dignidade. Além do próprio governo, que os subestima, os exclui, os confina a áreas desprezíveis para a sua sobrevivência, ainda sofrem preconceito da população, pois no Brasil o racismo não afeta só os negros.
Então só me resta, sozinha, prestar a minha homenagem: dentre os povos que compõem a minha carga genética, tão globalizada, os índios brasileiros ocupam um lugar especial.