Um amigo, o presente e o conselho especial
Uma viagem muito agradável, na companhia dos irmãos de Maçonaria e amigos José Soares da Silva, Pascoal de Oliveira, Odilon José Claudino Soares e Valby Ferreira Camargo, levou-me a Xinguara, no dia 11, onde e quando participamos do memorável evento maçônico que foi a iniciação de 21 maçons no Grau 18 do Rito Escocês Antigo e Aceito, no Capítulo Rosa Cruz “Benedito Barbosa Macias”.
Para mim, foi, como sempre, inesquecível. Xinguara, lugar em que fui cativado por amizades inabaláveis, que serão reverenciadas ao longo da minha vida, foi – não me cansa jamais realçar isto – a cidade da minha juventude. Amo Xinguara e seu povo, que, a cada lembrança, me avivam na memória a força e a alegria da juventude, as primeiras conquistas e realizações, os sonhos e esperanças!
Foi muito bom rever e abraçar Dilson Gomes de Almeida, Ednilson Ferreira da Silva, Flávio Vicente Guimarães, Jorge Lindolfo de Avila, Paulo Gomes de Almeida, Raimundo Santos Costa e Raul Carvalho, dentre outros irmãos de Maçonaria, pessoas que fazem jus à minha estima, carinho e respeito. Também sei – com inafastável convicção o digo – que a recíproca é verdadeira.
Jean-Jacques Rousseau, no livro Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, define a perfectibilidade, não como algo pronto e acabado no ser humano, mas como a “faculdade de se aperfeiçoar, a qual, com o auxílio das circunstâncias, desenvolve sucessivamente todas as outras e reside, entre nós, tanto na espécie como no indivíduo”. Xinguara e seu povo me lembram sempre isso.
Aqui faço, com efeito, um registro ad perpetuam rei memoriam. No dia 2 de setembro de 1986, recebi um presente do advogado recém-formado e recém-chegado a Xinguara Flávio Vicente Guimarães. Eram três livros jurídicos. Eu completara 26 anos em março, não cursara regularmente nem o primeiro grau, hoje ensino fundamental, mas dizia – com muita convicção, embora tudo parecesse um sonho inatingível – que seria advogado.
Muitos não acreditavam e zombavam da minha pretensão. Alguns, sem afeição a minha pessoa, conquanto não o fizessem na presença, na ausência me tachavam de tolo sonhador. Diziam: “Quase 30 anos, não tem nem o primeiro grau e diz que vai fazer curso superior, e (ainda mais!) de Direito. É um babaca.” Havia, entretanto, os que acreditavam no meu sonho e me incentivavam. Era o caso, dentre outros, do Dr. Flávio Vicente Guimarães, do Dr. Adhemar Pereira Torres e do Dr. Antônio Sebastião Arenhart.
Assim, na manhã daquele dia, no hotel onde morava (Avenida Amazonas, esquina com a Rua Cecília Meireles), vi parar um carro e dele sair o amigo com os livros, os quais gentilmente me entregou, dizendo ser um presente. Tenho paixão por livros e fiquei deslumbrado. E, mais ainda, ao ler a dedicatória do primeiro que abri, Técnica jurídica e prática forense, de Marcus Cláudio Acquaviva. Estava escrito: “Valdinar: Segue tua vocação. Flávio V. Guimarães. X. 2/9/86.”
Hoje, advogado, graduado e pós-graduado em Direito, guardo com muita honra dentre os inúmeros livros que tem a minha biblioteca e, a despeito do tempo já decorrido, leio com muita gratidão os três livros dados pelo, à época, amigo e, agora, também colega de profissão e irmão de ideal maçônico. Os outros dois são A técnica de elaborar petições e Dicionário de latim forense, ambos de Gilberto Caldas. Um presente de valor inestimável.
Atos e ações de valor inestimável são impagáveis.