É tempo de exercer o papel secundário
Na sociedade em que vivemos se cobra muito que as pessoas tenham atitude, que sejam pessoas de ação.
Nem o próprio indivíduo aceita ser menos que o melhor. Ninguém pára pra pensar que poderia ser um ótimo coadjuvante. Todos querem ser atores principais na trama da vida. A posição passiva chega a inspirar asco nas pessoas. Esse desrespeito à sua própria natureza tem um preço alto. Stress, depressão e por aí vai.
Você deve executar com sincera satisfação seu papel como coadjuvante, pois as coisas vêm a seu tempo e as posições pessoais vão sendo atribuídas conforme a condição de cada um. Se você passa dia e noite ansiando por uma posição a qual ainda não está preparado para assumir, a única coisa que conseguirá, será mostrar-se ineficiente no que está fazendo atualmente. Talvez você replique que está simplesmente aguardando os sinais intuitivos da chegada de novos tempos. Ora por favor! Não confunda estar “atento aos sinais” com uma ambição exagerada, por exemplo. A ambição só é positiva num contexto muito bem centrado, fora isso, não passa de fator de cegueira.
Os orientais também ensinam que quando o elemento passivo de uma relação, seja ela afetiva ou de trabalho, não aceita sua posição e decide medir forças com o elemento ativo, que isso fatalmente traz conseqüências muito ruins para ambos. Não pode haver somente criadores ou dirigentes na natureza ou na sociedade. É preciso haver criador e executor.
Quem não é independente, queira ou não, aceite ou não, não tem a última palavra e não pode exercer a voz de comando. Um exemplo são aquelas situações em que os jovens querem desafiar as decisões dos pais. Nós costumamos alertar afirmando que aprenderão pelo modo mais difícil, mas parece que as pessoas têm grande dificuldade em compreender o que isso quer dizer. Reagem como se estivéssemos usando história pra incutir medo em criancinha, mas na verdade não é bem isso não. No universo sempre existe aquilo que predomina e aquilo que se submete. Se você não é responsável por determinada coisa, se não é independente ou não exerce a função de comando, não adianta arrancar os cabelos. Se você insistir em mostrar uma força que ainda não possui, inevitavelmente irá desencadear uma sucessão de circunstâncias péssimas, das quais certamente lamentará. No caso dos filhos, estando protegidos por suas famílias, não sofrem o efeito da “lei do mais forte”. Talvez por isso estejam se tornando tão insuportáveis. Antigamente ninguém nos garantia que nossos pais teriam que nos aturar independente do que fizéssemos. Hoje, os adolescentes contam com a conveniente proteção dos pais e um maior conhecimento do mau funcionamento das leis de proteção à sua “categoria” para fazerem um sutil terrorismo dentro de casa. Pois é! Mal dos tempos modernos. Isso gera indivíduos prolixos e vaidosos. Ou seja, serão adultos que falarão muito, saberão pouco e se acharão o máximo. E quando estiverem no meio social, submetidos à “lei do mais forte”, serão derrubados facilmente pelo primeiro oponente.
Tenha sempre em mente que um potencial oponente jamais se interessa por alguém que “nem cheira e nem fede”. Para que você entenda, digamos que você seja um caçador e visualize mais à frente alguns patos a passearem tranqüilamente entre a vegetação, o que te atrapalha um pouco a visão. Dentre eles, um fica saltando e batendo as asas. Em qual você irá atirar? Portanto, se você ainda não é um caçador extremamente habilidoso na luta pela vida, trate ao menos de não parecer uma presa tão óbvia.
Quando o indivíduo compreende que sua palavra não é “a última” e que não está na posição de ditar as regras, aceitando sua situação de passividade com tranqüilidade, sem grandes dramas ou neuroses, acabará encontrando outro indivíduo que o oriente de maneira positiva e produtiva, oferecendo-lhe oportunidade de desenvolver suas habilidades discretamente, respeitando o tempo certo. Portanto, aceitar sua condição passiva não é sinônimo de fraqueza, mas sim de sabedoria. Burro é aquele que vive dando “murro em ponta de faca”.