SERIAM OS DETALHES SUTIS DO SONHO?
Caiu-se no abismo do silêncio, na penumbra onde a dor acarretava angústias tão fortes que chegavam a ser palpáveis. Nessa imensurável parede que separava nós dois das nossas míseras alucinações da carne, pairou-se o símbolo do aprisionamento, feito borboleta cintilante. E como era igual o lado animalesco ao lado racional, estacionou a intimidade desconfortável existente entre dois seres, tão desiguais à proporção de suas similaridades. Dessa constância quebra de expectativas entre duas criaturas, brilha a luz, encontro fulcral das entrelinhas costuradas entre as vísceras, elo reunido das duas vidas.
Acordei minimamente otimista, ainda que a tristeza tenha me rondado durante toda a madrugada. Era basicamente como andar descalço sobre rosas cheias de espinhos, prontas para perfurar meus pés ásperos. Alguma luz proveniente do universo atravessou as grades da janela do meu quarto. Pensei ser Deus trazendo seu aviso celestial. Encarei certo fenômeno como algum sinal. Estava redondamente enganado. O motivo eu não sabia, mas, garanto ter me sentido abençoado por aquele misterioso evento inexplicável. Vi a natureza me visitar. Afinal de contas, não seria a natureza a personificação divina? Questiono-me, ou melhor, confirmo que sim. És tão secreta a ponto de nos intrigar com tamanha formosura.
Levantei espantado por ter lembrado daquele sonho tão tenebroso. Deveria rotular de pesadelo, porém, era tão meu a ponto de eu mesmo não sentir pavor quando acordei. Fiz de minha curta felicidade o encaixe desapegado de quem eu era por alguns instantes. O sono era algo a me restaurar, creio eu, cuja a sorte ficou me devendo suas próprias receitas das perenes admoestações que atravessavam meu peito enquanto repousava no caos do sono. O sabor da liberdade é caríssimo, obra de arte disputada a poucos que podem pagá-la. Essa tal alegria provém não se sabe de onde nem de quem, nem mesmo o porquê dela existir entre nós, duas peças em jogos separados.
Só sei daquilo que senti. Isso eu posso afirmar; o contato com o estranhamento foi deveras inefável para aceitar adjetivos prontos. Aconteceu, foi diferente de qualquer coisa já presenciada pelo meu corpo. Era a vibração do choque entre realidades além dessa realidade. E quem quer que fosse e estivesse presente naquele mundo separado, sabia das nossas piores interpretações pessoais. Foi alívio imediato quando se perdera o medo de esvaziar o conteúdo de si. A purificação de qualquer pútrida maldade além dos nossos pecados terrenos.