Sua felicidade nos deixou felizes
Meu nome é João ninguém, tenho 54 anos e sou professor de matemática. E sempre fui chato, pelo menos eu sempre me vi assim. Não mau caráter, apenas metido a querer saber muito, o que não é de todo o mal. O conhecimento é algo potencialmente maravilhoso, depende de como o usamos. Na verdade eu queria dizer que ele é moralmente neutro, e como tudo tem dois lados, e blablabá, blábláblá. Mas percebi que eu seria mais uma vez chato, enfeitando uma coisa que pode ser dita de forma tão simples. A comunicação é a arte de tocar corações e mentes e não de entediar quem nos ouve e nos lê.
E num dia de extrema chatice, navegando pelas redes sociais, eu vi uma moça linda, que a meu ver tinha tudo que precisava no quesito beleza, mas não somente nesse quesito, fazer um procedimento estético e deixar sua maravilhosa boca diferente. Feia? Não, apenas diferente. Linda na verdade, mas diferente.
O que de alguma forma me incomodou. Por que uma pessoa tão linda gasta dinheiro e tempo com algo que não precisa? Porque o dinheiro e o tempo são dela, respondeu o meu lado racional e critico. Na verdade meus dois lados são racionais e críticos, mas um critica as pessoas e o outro critica as minhas críticas. Isso é um inferno mental. É como duas pessoas como a a minha aparência dentro de mim brigando constantemente para ver quem está certo.
Mas às vezes consigo ver uma outra pessoa, tranquila e serena, assistindo essas brigas e achando graça nelas. Como um pai que observa os filhos e quando necessário dá uns puxões de orelha nas criaturinhas insolentes.
A minha versão amorosa e calma foi para a cozinha e nos trouxe bolinhos de chuva. Tentamos, cada um de nós, as crianças briguentas, trazer esse ser para nosso lado da discussão sobre a moça quem nem tava aí para nós. Mas ele apenas sorriu e disse: "Vamos comer bolinho de chuva e assistir tv. Ligou a televisão smart e lá estava a moça, numa rede social, fazendo vídeos. E o interessante é que ela parecia muito feliz e, embora falasse de um golpe, estava avisando as pessoas sobre, ela mexia bastante e fazia questão de tocar sua boca. Às vezes falava do procedimento, discretamente, de forma muito sútil. Mas era muito claro que ela estava feliz. Ela fez um procedimento caro que não prejudicou ninguém, mas que a deixou extremamente feliz.
Olhamos um para o outro e nos sentimos muito unidos, embora ainda fossemos três. Mas o amoroso era mais forte agora. ele nos fez entender que ela fez simplesmente porque isso a deixaria feliz. E isso deveria nos deixar feliz também.
Comemos mais bolinhos de chuva, um pouco envergonhados. Mas felizes porque alguém fez algo inofensivo e que a deixava feliz.