O menino é o pai do homem
O menino Lucas, de nove anos, discutia com a mãe sobre algo que ele queria e que a matriarca não julgava adequado para ele nesse momento. O tipo da coisa que ela poderia ceder sem ser uma irresponsável , assim como poderia dizer não sem que isso fizesse dela um monstro.
Ele foi, então, até o pai que cuidava do jardim e tentou reverter o jogo contando sua versão. O homem, com sua tranquilidade habitual, ouviu e começou a falar com ele sobre inteligência emocional. Percebeu que era uma ótima oportunidade para essa preciosa lição.
- Olha, filho, vai ser muito bom para você entender que a vida não é força. É jeito. Se você quer convencer sua mãe a te dar o que você deseja, precisa falar com muito carinho. Ela precisa ser convencida que não está sendo desrespeitada como mãe e que você merece o que quer.
Lucas sorriu e seu pai acreditou que ele havia entendido o recado.
Passando alguns dias mãe e filho estavam novamente num embate por outra questão do mesmo quilate que a anterior. E o menino, quando percebeu que estava indo pelo mesmo caminho de sempre, foi ao seu pai que estava na sala:
- Pai, como é aquele truque que você me ensinou para enganar a mãe?
O homem ficou pasmo com a situação, mas tentou se explicar.
Essa crônica vai de encontro com a citação de Machado de Assis, na sua obra Esaú e Jacó, que diz que o menino é o pai do homem. Afirmação em consonância com os ensinamentos espíritas que dizem que somos herdeiros de nós mesmos, já que tudo que fizemos em outras vidas está registrado em nós e moldou nossa maneira de ser.
Mas devemos, ainda, lembrar que o pai educa e que a reforma íntima, tão necessária à felicidade do ser, se dá através da educação espiritual e não da repressão. Não basta reconhecer nossos defeitos e nos sentir mal com isso. Assim como não é suficiente aos pais proibirem os filhos disso ou daquilo.
Podemos levar isso no sentido literal e metafórico. Pois temos filhos e temos que observar essas tendências de nossa prole e trabalhar isso à luz do cristianismo. Assim como precisamos reconhecer que somos crianças espírituais, o nosso grau de evolução é pequeno, e agimos quase sempre, são dados científicos, movidos pelo nosso inconsciente. Ou seja, estamos fazendo poucas escolhas com o pensamento no presente e que seriam responsáveis por nossa evolução. O homem primitivo, o bárbaro, ainda comanda nossa jornada.
Pensemos nisso. Pois somos aquilo que pensamos ser. Somos aquilo que insistimos em ser.