ACOLCHOADOS DE CHITÃO
ACOLCHOADOS DE CHITÃO
Fazia frio naquela manhã chuvosa de outono.
No terreiro molhado as criações encorujadas se escondiam da chuva que quarava sobre o ar fresco do alto da montanha.
As copas das araucárias se escondiam por entre as nuvens que chegavam até o chão molhado.
Um silêncio natural, acalmava os alaridos dos animais que circundavam nossa querência.
Eu, na minha cama, no quarto do fundo, ia embalando no sono matinal, debaixo do acolchoado que vovó confeccionava para mamãe nas temporadas que lá em casa passava.
Duas vezes ao ano, vovó Francisca ficava uma semana em nossa casa.
Para mim era um período tão esperado como eram Natal e ano novo.
Na semana que vovó convivia conosco, mamãe lavava as cobertas velhas, aquelas que quase não eram mais usadas, cobertas feitas de barbantes, que eram compradas dos viajantes que de vez em quando passavam pela nossa residência. E depois de lavadas eram entregues para vovó confeccionar os acolchoados.
Mamãe comprava fazenda de chitão bem estampada, com cores vivas para fazer as capas, onde vovó colocava as cobertas velhas. Hoje temos industrializados os edredons.
Na época eram assim feitos e poucas pessoas sabiam confeccionar essas relíquias do passado.
Vovó levava um ou dois dias para deixá-los prontos.
Era debaixo de um desses que eu dormia nas manhãs chuvosas daqueles altos frios.
Os cobertores aveludados mamãe os guardava em cima do guarda roupa, esses eram para usá-los quando acontecia de vir visitas para pernoitar.
Para nós em casa eram usados os acolchoados de chitão. Um de fundo vermelho com folhas bem grandes em dois ou mais tons de verde. Outro com fundo laranja e flores gigantes azuis com folhas em verde escuro e verde limão. E um que eu tanto gostava, com fundo verde limão e flores enormes cor laranja e os detalhes em verde escuro .
Essas coisas ficam gravadas em nossas memórias.
Por isso que é importantíssimo vivermos cada ciclo da vida com toda a nossa intensidade.
Assim a vida se torna grande, mesmo sendo curta.
É isso aí!
Acácio Nunes