Livros na mesa
Estamos os três a uma mesa na calçada da Pastelaria do Lee, em Marechal Hermes. Não se conversa. Não viemos aqui para conversar.
Eu bebo uma tônica e folheio um livro recente de Claude Ribbe — Le crime de Napoléon. Declara o historiador: "O crime a que me refiro é exatamente aquele que a partir de 1802 foi cometido contra os africanos e as populações de origem africana deportados, escravizados e massacrados nas colônias francesas." Podem acreditar que o homenzinho sinistro sai dessa história em farrapos.
Miloca, ao meu lado, deixa o seu copo de cerveja esquentar e lê com avidez uma biografia de Simón Bolívar, imaginando que vai rolar uma recompensa por parte do governo venezuelano para quem descobrir que assassinou ou mandou assassinar o grande libertador. De outra mesa, fingindo um alheamento irritante, o gaiato do PCdoB que lhe emprestou o livro acompanha as reações de sua nova pupila. Esse já está no papo do socialismo do século XXI.
Águia Negra beberica o seu martelinho de pinga e passa as páginas de um livro sobre o Mengão. De tempos em tempos, suspende a leitura, olha para mim com cara de assombro e diz que gostaria de ver o Joel Santana no lugar do Dunga. Descobriu a pólvora.
Como vêem, tarde de feriado das boas. Boteco, leitura e silêncio cabeça.
[17.11.2007]