Declaração de princípio

Com duzentas palavras (pouco mais, pouco menos) é possível escrever uma boa crônica de internet. Evitamos a encheção de lingüiça, a tentação da firula, o excesso de dados na ambientação temática.

Para quem lê, nem se fala. Gasta menos de cinco minutos com o texto, sem motivo real para zangar-se com um cara que lhe pede essa mixaria de tempo, e pode correr gira depois disso. O fato de ter lido algo inútil — o verdadeiro ouro de toda crônica — só acrescenta mais luz ao entretenimento, se me permitem. Mas atenção: disse inútil, não irrelevante.

Deste lado do Boulevard dos Tamarindos, em Marechal Hermes, o meu rio Tingüi percorre um trecho de nada a céu aberto, o bastante, porém, para as canelas finas de Heráclito, e com este, sempre de novo, o conceito filosófico mais bem-sucedido do pensamento ocidental — o devir.

Outro bom exemplo são os "telefonemas" de Oswald de Andrade ao Correio da Manhã entre 1944 e 1954. Três ou quatro parágrafos que vão direto ao ponto e nunca perdem o bonde ou a lotação. É verdade: ele diz a lotação, como nossos pais.

Enfim, vamos em frente.

[16.11.2007]