Sinceridade versus Franqueza
Segundo o dicionário da língua portuguesa, sinceridade e franqueza são palavras sinônimas, não havendo algo que possa distinguir uma definição da outra, mas em minha opinião, é sempre bom diferenciar o que é qualidade do que é somente característica. Para mim, sinceridade é “qualidade” e franqueza “característica”.
André Comte-Sponville escreveu um livro chamado “Pequeno Tratado das Grandes Virtudes” onde ele faz uma verdadeira salada mista de características de personalidade dos indivíduos e classifica todas elas de virtudes. E note-se que interessante. Ele deixou de fora a sinceridade. Procurei em seu livro, que de pequeno não tem nada, alguma “virtude” que correspondesse à sinceridade ou à franqueza e não encontrei.
Tem muita gente por aí que confunde característica com qualidade. Não é incomum você observar crianças ou adolescentes que falam tudo que pensam, ou seja, que são francos. Esses projetinhos de indivíduo, não raramente passam por cima do sentimento de outras pessoas como um trator e quando você olha para os pais esperando que alguma atitude seja tomada para sanar o estrago que o “franquinho” fez, ainda tem que ouvi-los dizer: - Ai olha que gracinha ele é! Fala tudo que pensa... Que bonitinho.
Para mim o jargão: “Quem fala a verdade não merece castigo” é desculpa de quem não se importa com os sentimentos dos outros. Isso não me soa nem de longe como uma qualidade e sim, como a característica do “linguarudo”.
Mokiti Okada elaborou uma definição muito interessante: “A SINCERIDADE é a chave para o homem encontrar o caminho que o liga a Deus e a FRANQUEZA, é o grande empecilho para a prática da sinceridade”. Daí em diante eu passei a associar a sinceridade àquele que tem o “coração aberto” e a franqueza àquele que tem a “boca aberta”.
O que se vê na sociedade de hoje em sua maioria são pessoas francas, os sinceros são poucos.
A sinceridade é a qualidade daquele que busca e expressa a Verdade. É uma qualidade elevada, própria daqueles que sabem penetrar no pensamento do outro, na razão, no sentimento e na vontade que motiva o outro a agir da maneira como age, em diferentes circunstâncias, qualificando a pessoa sincera a diferenciar aquilo que será útil ser falado, daquilo que não. O sincero é antes de tudo, generoso, compassivo.
A franqueza é a característica daquele que fala o que pensa, portanto, constitui a teoria da verdade individual (de cada um) e não exige da pessoa franca nenhum aperfeiçoamento pessoal para compreender ou considerar o pensamento dos outros. No dicionário da língua portuguesa é associada à idéia de lealdade, mas em minha opinião, só se for lealdade a si mesmo e suas próprias vontades. Quanto mais franco, mais individualista.
Infelizmente eu acho que a maioria das pessoas ainda não percebeu que o aperfeiçoamento pessoal se dá na medida em que deixamos de olhar o nosso umbigo e passamos a observar o mundo.
Portanto, antes de manifestar sua opinião sempre reflita:
“Estarei eu, sendo sincero ou franco? O que vou dizer tem utilidade para as outras pessoas ou estou simplesmente expondo um fato ou opinião sem passar pelo crivo da razão e do bom senso?”.
Tenham todos um ótimo final de semana!