O Bigode de seu Tião
Prepara o coração para o fato que eu vou contar, aconteceu há muitos anos no jogo de sinuca de bar. Se é que aconteceu, eu sei dizer que sim, mas se tudo desse modo ocorreu, eu infelizmente não vi. Mas, me contaram:
Era uma vez, a cerca de 40 anos, meu tio, meu pai, alguns bêbados, cachaça e sinuca. O bar era da família, os outros sete e os velhos já dormiam. Meu tio, do bigode grosso, jogava, meu pai atendia.
Eram outros tempos, não havia energia, a lamparina a querosene iluminava, pois sem ela nada se via. Meu pai, o barman, foi no brejo buscar um refrigerante que gelava, meu tio, entretido com o taco na mão, jogava. Era moreno, semelhante a avó, cabelo enrolado, baixo, bigode respeitoso. Fui dar uma tacada de mestre, na quina da sinuca próxima à lamparina, veja que coisa maluca. Fechou um olho, ajeitou o taco, pra frente pra trás, mirando jogada. O bigode muito extenso na lamparina, sem perceber a burrada. O bigode pegou fogo, nem conseguiu dar a tacada — Me ajudem! Me ajudem! — Com feição desesperada, mas todos bêbados, não puderam fazer nada. Mas foi aí que apareceu, seu irmão de boa intenção, depressa um copo d’água em cima do balcão, jogou-o por toda a cara de seu Tião. Mas foi aí que piorou toda situação, o fogo tomou asa, seu irmão percebeu que no copo era cachaça. — Meu Tião! Meu Tião! Enfia a cara na bica, eu joguei foi é cachaça pra piorar a sua vida. — E assim fez Tião, como era água corrente, conseguiu conter a chama, mas nada contente. No fim deu tudo certo, a pele permaneceu, mas naquele mesmo lugar, bigode nunca mais nasceu.