TODOS ERRADOS, TODOS CERTOS!

Sempre existiu e sempre existirá a resistência ao novo, no fundo todos temos arraigado, uns mais, outros menos, um certo conservadorismo. Mudar pra que se está funcionando bem? Sabemos que esse modo funcionou bem antigamente e funciona bem no nosso tempo e agora vem esses daí ainda com os fiapos dos cueiros nos fundilhos, querendo nos ensinar.

Conheci o meu avô materno quando eu estava com doze anos, depois o vi quando tinha uns dezoito anos, ele se mudou para o Paraná, quando lá era fronteira agrícola, eu não era nascido.

Em fevereiro de 1976, ele faleceu e minha mãe quis ir até lá, então fomos no meu fusca mileduca (1200) canela seca, velhinho mas novinho, eu era do ramo das oficinas.

De Santo André até Jandaia do Sul, onde pousamos, num hotelzinho de pernilongos que pareciam helicópteros, foram mais de sete horas de viagem com muita chuva e vidro embaçado, quatro adultos e dois moleques, e ainda o meu primogênito que estava na barrigada da minha mulher.

No dia seguinte a aventura de chegar até as terras do meu avô no munícipio de Cambira, um lamaçal de terra vermelha que graças ao trator de um dos tios, chegamos rebocados até a fazendinha. Meu avô tinha sido enterrado no dia anterior.

Parece que os mineiros tinham levado e fixado lá os seus costumes e o modo de dizer as coisas: Vamos lá, é perto! É um tirinho de espingarda. Fiando nessa conversa fomos a pé na casa de uns outros parentes. O tirinho de espingarda acho que ia bem mais longe que um tiro de canhão. Eu que era magrelo, por alguns momentos tive que carregar minha mulher, que como disse, estava grávida. Para voltar a noite naquele céu estrelado sem nada de lua, arrumaram um jeep e amontoamos uns quinze em cima, uns tantos sentados e alguns pendurados do lado de fora, mas a estrada é que emocionava, só era possível seguir com um lado do jeep rodando na valeta da enxurrada e ou outro lado na parte alta, então os que estavam dependurados pelo lado de fora, ficavam do lado mais alto para fazer o contrapeso, a gritaria das mulheres: “para que vai tombar”, e a “valentia mentirosa” dos homens: “Vai devagar com cuidado que não tem perigo”. Chegamos de volta na fazenda sem saber qual foi a mais penosa, a ida ou a volta.

Voltando para o caso da resistência ao novo, no dia seguinte, na sala da casa, eu só escutava as conversas do meu pai e dos meus tios. Eles se achavam grandes conhecedores na questão agrícola, e eram, segundo o que aprenderam, e o assunto que dominava era sobre as tecnologias e modos mais modernos que os agrônomos dos institutos governamentais estavam implantando na agricultura naquele estado. Os xingos indignados eram fortes e bastantes. “Esses meninos que ainda tão com os fiapos dos cueiros na bunda, vem querer ensinar o padre nosso pro vigário”.

Pra fechar, em outras oportunidades assisti coisa parecida em outro lugar. Presenciei um mestre de obra falar horrores de um engenheiro civil, que impunha o seu modo de entender em uma obra.

Acredito que ninguém está cem por cento certo e nem cem por cento errado nesses casos. O novo que aproveita a experiência conseguida por quem já viveu, atinge seu objetivo com menos sofrimento e desperdício de tempo e dinheiro, e o antigo que consegue entender os benefícios da ciência, de quem estudou, também só tem a ganhar, tanto no tempo quanto monetariamente, consequência da economia de insumos.

JV do Lago
Enviado por JV do Lago em 14/09/2021
Código do texto: T7342222
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.