GARIMPO DAS FLORES E DORES

Um tratado de defesa do meio ambiente

Benfazeja

O sol - gema corada aos poucos desce por sobre a copa das árvores que margeiam aquele caminho donde passam ou passaram escravos fugidos/libertos. Homens e mulheres negras que tiveram a má sorte de serem cativos em fazendas da região. Viam, na majestade das florestas - ainda que desvirginadas pela ação humana -, um motivo por demais promissor para lutarem pelo bem querer. Tal é a senda da verdade. Longe de qualquer ilusão de nossa parte.

Que é? Passado sombrio que ficou para trás no nefasto século IIX [obscuro pela triste escravatura acautelada pela assinatura áurea da Princesa Isabel]. Aro de ferro quebrado qual silêncio quebrado pelo canto macio dos rouxinóis em manhã ensolarada de domingo. Salve a liberdade de nós outros! O ano de 1888 marcou, com letras douradas e de puro brilho, um momento épico-secular. O desejo de se abrigarem à luz do céu [noite e dia] pouco a pouco vira doce e mágica realidade - conquistada sob duras penas. Seria, pois, o usufruto da terra, direito dantes roubado, sem perca da esperança de tê-la de volta como recompensa tenaz e feliz d' alguma jornada desencantada.

Agora, desfrutam da quietude do quilombo. Ah, o quilombo! Humilde paraíso na terra! Recanto das flores [de uma espécie só] e sonhos azuis com bolinhas da mesma cor. A natureza, generosa que é, abençoa, com mãos de fartura, a boa gente africana. Desde cedo aprenderam a cultivar o espírito da bonança em permuta do ódio. A tatearem por entre as pedras na busca cessante ‘não de ouro’, mas de dignidade. O simples trato com uma planta miúda demonstra a grandeza presente em cada gesto. Quem? Pessoas negras que devotam ‘tudo aquilo de sentimento’ em favor das plagas benditas [seus locais de moradia e vivência]. O que dirá nós a respeito do assunto? Uma raiz bem plantada rende frutos de excelência.

Os quilombolas, por sua vez, sempre tiveram respeito e especial reverência à esse quadro chamado [ecologia♡]. Lindo de se vê, belo de sentir! O cuidado e o amor se alia à grande provisão oferecida pelo solo e quase tudo que nele há: alimentos variados e apetitosos; semente para plantio na ideia-prêmio de colheita no porvir. Tal é a essência da vida! Benquista por se tratar da mãe natureza e seus prodígios. São eles, admiráveis e abnegados defensores do meio ambiente. Enxergam, em cada palmo de terra, a dimensão da obra divinizada pelo canto da chuva, dança das mulheres prenhas, rugidos em agradecimentos ao rei sol, dentre outros. Adoração esparzida de fé, luta, união e equidade. Não desejam assistir a desgraça alheia, muito menos a decadência daquela que acolhe, como senso maternal, a passagem de cada um pelo planeta-luz.

Mestres que são, na arte escorreita de amarem a natureza, exibem com fulgor a sua lealdade á ela. Quilombolas, ternos e eternos heróis da independência, tendo como capas as folhas gigantes da samambaia amazonense. Selvagens? Não. Povo natural e culturalmente civilizados pela docilidade dos seus ancestrais manifestos no pipio da codorna correndo pelo verdor das campinas relvosas em flor. Eles defendem, com esplêndida coragem, o nosso ecossistema brasileiro. Essas comunidades (já citadas de início), existem até hoje, para contento desse estudo [presente texto] reverberam a riqueza de uma identidade pluralista <povos e povos> tendo a matriz africana como referência maior. Deles, herdamos a gênese AMOR PELA NATUREZA com exceções de pessoas, fatos e costumes. Daria, por certo, um demorado ‘tecer de elogios' que pudesse externar a nossa gratidão.

A fauna e a flora precisa de nós, como nós precisamos de ambas. Talvez seja essa a mensagem transmitida e propagada por nossos colegas quilombolas ao longo dos anos. Por meio de ações e exemplos deixam evidente o vosso carinho desmedido pela grande morada terrestre: matas, bosques, jardins, várzeas, rios, lagos, mananciais, nascentes, oceano, picos, galerias, montanhas, colinas, grutas, rochedos, pedrarias, etc.. Sem esquecermos, é claro, dos animais, tidos e vistos como seres viventes carecedores de proteção. Algo singular! Por isso caro leitor, quilombos representam pequenos/médios vilarejos engastados no seio da fantasia [harmonia entre homens/animais/natureza]. Precursores das leis da floresta [ditadas pelo ‘sagrado’ e sua égide peregrina / deuses]. Deixam-se guiar pela voz serena e melodiosa do coração de guerreiro. Veem, com os olhos de dentro, a paragem que lhe é o ‘lar, doce lar', numa sensação mística de dá á ela o que ela tem nos dado a vida toda.

Saibamos, pois, dar-lhes o devido e merecido valor! Coroa de virtudes. Quilombolas e meio ambiente se casam, perfeitamente, sem escusas do gênero diferenciação. Sigamos, aliás, esses modelos de ambientalistas [jamais à espera de paga ou compensações monetárias☆]. Salta-nos aos olhos a sua vocacionada atividade de defesa intransigente do ambiente/meio para um novo começo. Pudessem eles, escrever uma cartilha pouco massuda relatando as suas experiências sublimes no campo de batalha. Batalha do bem, diga-se de passagem. Se à época da escravidão tinham como escudo a natureza e seus desafios imagine hoje, livres para cultuá-la?! Uma faixa multicor desenhada pela história contada temporalmente. Ensinamentos partilhados com extrema retidão de caráter. Bons quilombolas, personagens ilustres desse nosso texto concursal.

Reeduca, a sociedade moderna, para que novos rumos sejam tomados em direção ao futuro incerto. O horizonte pode não ser tão atrativo para todos (as) a depender do momento/circunstância.

Os mais vulneráveis, [perigo, doença, desabrigo] são estes, as vítimas da vilania. Nem tudo são flores, pois onde há flores existem espinhos pontudos e terríveis. Os problemas, deste ou daquele tipo, surgem com o tempo. Afligem, como sempre afligiram, pessoas de bem não suportam a ideia insulsa de destruição. Desvio/erro de conduta? Não cabe a mim julgar e sim relatar com modestas favas. Alma gentil é aquela que se aventura a conhecer-nos por dentro e por fora! A natureza nos fez diferentes uns dos outros, não para sermos inimigos. Quisera nós, termos o condão de protegê-la por todo o sempre! O dia de amanhã seria bem mais bonito, deleitoso e risonho. Nasceria em face de nossas despreocupacões tidas e vistas na leveza dos néctares superfinos buscados pelo beija-flor♡.

As queimadas criminosas e a exploração aviltante de ‘lugares maravilhosos' são exemplos da atitude desastrosa do homem mau. Uma faísca ou fagulha de fogo destrói espaço onde vivem animais e plantas numa questão de poucas horas. A ousadia de alguns, atrelada à ambição, não tem limites. Isto desde a época da carochinha. Os quilombolas sempre se opuseram à essa tirania! Estes, tiram da natureza, aquilo que ela pode substituir, de forma inexpressiva, para extensão da sua grandiosidade mundana. Arranca um raminho de mato aqui, renasce um raminho de mato acolá. O solo fecundo exprime o bem-cuidar. Da semente, o fruto. Resultado fiel do esquema vital pessoas/animais e plantas. Tudo que nasce, um dia deixa de existir. Segue, pois, o curso natural da vida.

O rio, não poluído, continuará com sua missão cristalina de banhar os vales e ofertar o líquido precioso da vida. Uma árvore derrubada, por vezes, não será ‘reatada' através do replantio, recolhendo a natureza aquilo que sobrou da sua vetusta frutificação. Aproveitando o ensejo, lembramos dos índios - filhos da terra - como guardiães da eternidade. Amam condignamente a natureza, o meio ambiente, o ecossistema. Dão provas disto, material e imaterialmente. O ser sociável [nós] talvez não tenha a mesma disposição/traquejo para salvaguardar essa arca preciosa. A inteligência vence a força bruta. Mas, o bruto, mui das vezes, prefere ignorá-la. Durante décadas o ente ambiental [seu conjunto de existência] sofre paulatinamente com a braveza dos sonhadores [ouro minado, poder, mando e senhorio]. Trabalho esse que atravessou os séculos, pormenorizando o eco-espaço e suas acentuadas transformações [adversidade].

Se o clima é denso nesta ou naquelas bandas, a mão do homem, aliás, tem influência ainda que diminuta sob os aspectos do tempo [previsível por meio da meteorologia]. O ar quente-seco, provém de massa seca ou fumaça/fuligem divergida de incêndios ou focos de fogo. Coisa de gente civilizada! Sacrificar a natureza redentora a troco de resultados venais. Vale dizermos que esse costume advém da colonização do Brasil. Preciso é, darmos essa notícia insensata ao leitor. Os portugueses, em sua saga pelas terras cultiváveis da colônia baineira, ‘já desmatavam' enormes territórios desocupados, incultos e castos. Utilizavam-se da foice rústica para abrirem verdadeiros corredores dentro dos campos verdejantes. A busca pelo minério, incentivava-os a derrubarem pedras, alargando passagens e escavando o solo remoçado com pancadas mecânicas [instrumento próprio como picareta e alavanca].

Pois, bem. Puxando pelo lado histórico... O legado deixado por peles-vermelhas e quilombolas reafirmam a certeza de que é possível nos associarmos ao bem supremo chamado natureza. Tanto um, quanto o outro, exaltam grandemente esse cenário construído a milênios para servir-nos com suas benesses. Por que arranhá-lo ou estragá-lo? Esta, nos favorece, de modo particular, com mimos-presentes de valores incomensuráveis. Podemos de ser, por meios e modos, a grande tutela chamada nova geração ecologicamente correta. Palavras, apenas, não mudam nada [em termos de ações] mas provocam ecos lembrados e agraciados para a posteridade. As estrelas sorriem quando encontram céu para brilharem. Vamos sorrir por encontrar chão para pisar, plantar, colher e viver nosso ciclo de vida.

Salvemos, a tempo, o meio ambiente e suas dádivas. Amanhã pode ser tarde de mais!

Thiago Valeriano Braga

Thi Braga
Enviado por Thi Braga em 06/08/2021
Reeditado em 06/08/2021
Código do texto: T7315150
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