QUANDO VOCÊ ESTÁ LONGE

Estive hoje olhando o mar. Ouvia uma canção toda bonita enquanto exercia esse direito de olhar o mar. Esse direito que é uma concessão dada aos poetas que precisam de inspiração.

O mar estava ali ao meu alcance. Estava ali com todos os seus tons, os seus sons, os seus dons. Havia música e havia toda aquela gente exercendo seu direito de ser feliz. A tarde trazia aquele tipo de conforto. Mas o mar e toda a sua tripulação não me pareceram tão belos. Não havia nada ali a me comover.

Porque você não estava ali. E esse tímido detalhe mudou toda a paisagem. Diminuiu o momento. O mar, o ar, tudo pareceu tão ser par. Mas em meio a essa beleza triste, essa beleza sem alma, brotou uma saudade boa. Que doía e ao mesmo tempo dava luz ao coração.

Mais do que saudade, era um farol a dizer que sem você para ver comigo não há qualquer beleza que merece ser vista. A beleza reside, descobri, na partilha do instante. De olhar junto para qualquer paragem. Porque quando você está comigo sou inquebrável, sou poeta de novo. E olho tudo com os olhos de alguém que abençoa qualquer minuto.

Porque o amor é isso também. É colocar luz no olhar quando se está junto. E é fazer dormir a luz quando se está longe. É a escuridão absoluta. Mas é um breu que se desfaz com a sua simples presença, faiscando clarões e iluminando o mundo que é só nosso.

Anderson Alcântara
Enviado por Anderson Alcântara em 12/07/2021
Reeditado em 12/07/2021
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