REFLEXOS DE CADA SOBREPOSIÇÃO

Quando me olho no espelho enxergo outra versão minha não preparada para o futuro. Eu só consigo observar os sonhos deixados para trás jurados no calor da juventude. Uma tolice jovem parecia suficiente para me preencher. Mas não consegui, fracassei sem querer. Inutilmente os cacos se quebram ao som de meus gritos etéreos. É a farsa da existência mediana representada no contraste obtuso daquilo que eu deixei ir. Só os oceanos em minha mente trouxeram confusões preciosas de entendimento. Ainda imaturo festejo o dissabor do desconhecimento, pois sei que quanto mais se conhece menos se entende de fato e mais desanimadora se torna a vida. Ultimamente tem sido o fardo dos fardos ouvir outras vozes a não ser as da minha silenciosa consciência avulsa.

Vazios somos preenchidos no calor subjacente ao retrocesso civilizacional. Ontem soube melhor como as gotas de chuva sofrem ao molhar rostos deprimidos. O mundo desmorona com tamanhas tempestades violentas. Quebram-se concretos, prédios, e morrem no momento o melhor que há em nós, sem nenhuma forma de resistência. E resistir tem sido um verbo muito bem aplicado nesse caos moderno, ambiente de sonhos frágeis. Ah, resistimos consciente do nosso atraso mundo afora. Quisera o viajante que habita em mim se afogar em meu reflexo vívido da antemão corrente no hábito. É o sacrifício justo pela ignóbil mecânica da existência. O final nem mesmo sonho na sua utopia. O distópico tem soado mais realista. Nunca procurei a realidade, afinal, a mesma já estava distorcendo a pouca humanidade creditada nos meus braços cansados.

Só represento meu melhor significado quando estou livre do reflexo estrangeiro, aquele que ri de mim quando estou o encarando com seriedade. Têm desejos mortos ao lado de ossos passados. Semeei interesses mórbidos pela catarse coletiva sem importância alguma pelas consequências. São emaranhados atrás de emaranhados a se desenrolar sem consistência do melhor da essência, seja lá qual for esse contato breve entre corpos e almas distorcidas. Só representei outro personagem enquanto os trovões gritavam nos céus cintilantes sobre minha cabeça esmorecida. É o fim, talvez, de toda a angústia, mas, o começo de outra Era.

Hivton Almeida
Enviado por Hivton Almeida em 11/07/2021
Código do texto: T7296986
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