BRINQUEDO QUEBRADO
Há tantos corpos por aí, tão felizes e cheios de si. Há tantas verdades guardadas por trás dos sorrisos ardentes. Num instante revela-se a frieza escondida. É o início da brincadeira.
Descompasso entre os passos, cordões manipuláveis de outro alguém. Começa-se a brincar de viver, sem entender como se compreende os passos livres aos destinos (des)ritmados ilusórios. Alguma vírgula procura frases. Pausas indigestas novamente.
Sem pestanejar há quinhentos mil motivos verdadeiros, figuras opacas destruídas, brinquedos mortos. Ora, engano esse meu de atribuir vida a brinquedos. São tristes destinos demarcados pelos donos sem cuidado. Quebraram pernas, braços e arrancaram-lhes os olhos, tanta pressa desenfreada.
Hoje conseguimos remendar brinquedos quebrados. Talvez nunca sejamos bons cirurgiões do que não poderá ser remendado. Inteiramente absortos, quantas mentiras contaremos até os últimos dias dessa experiência vivenciada, ou melhor, sobrevivente.
Aguardemo-nos novos cirurgiões competentes, esses grandes escultores minimalistas. Intrusos são aqueles cuja a decepção da fratura reage inerte às dores das fraturas alheias. São brinquedos, sim, sabemos, mas também poderão sentir dor.
Desse modo estaremos perdidos buscando nossos pedaços no lixo de alguma fábrica. Os operários mal sabem, mas, esses também serão os brinquedos quebrados. Na unicidade que conecta o Eu ao Outro, poderemos ser apenas um brinquedo, seremos você e eu, juntos na agonia eterna da mesma classe, ainda que um de nós esteja com os olhos da alma cegos.