Dor de dente. Peixe de água doce e peixe de água salgada. Perguntas sem pé nem cabeça.
Faz, já, algum tempo, que eu, dor de dente a atormentar-me, fui consultar uma dentista. Falei-lhe do meu caso, do dente, da dor, e, sentado na cadeira de tortura, à solicitação da dentista, abri a boca para ela examinar os dentes que ainda me restam, principalmente o que me doía. E deu a dentista o prognóstico, seguido das seguintes palavras: "Vamos extraí-lo." E ela mo extraiu, com todo o carinho do mundo. Sai do consultório, a cara inchada. Eu retornaria àquele consultório, para nova consulta, uma semana depois. E assim foi. No dia aprazado lá estava eu, sentado na cadeira de tortura, ajeitando-me quando a dentista pergunta-me: "E o dente? Está doendo?", referindo-se ao dente que me extraíra sete dias antes. Tão logo me fez a pergunta, comentou, rindo: "Como sentir dor no dente que eu arranquei semana passada?!". Eu sorri, divertido.
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Fui a peixaria, e tão logo um de seus funcionários atendeu-me, eu lhe disse: "Pediram-me para eu comprar peixe de água doce, e não de água salgada. Quais de água doce vocês têm?" E ele apontou-mos: eram três, ou quatro. E eu, sem titubear, perguntei-lhe: "E os outros são de água salgada?" E ele respondeu-me que sim, que os outros eram de água salgada. Não demorei para entender a minha tolice; e assim que paguei pelos peixes que pedi, já afastando-me da peixaria perguntei-me, rindo de mim mesmo, se havia peixe que não vive em água doce, tampouco em água salgada. O funcionário, que me atendeu, da peixaria tratou-me com o mais profundo respeito e de mim não riu - acho que não, pois a máscara que lhe cobria a cara não me permitia ver-lhe o rosto. Uma pulga, no entanto, está a coçar-me a orelha: Assim que me retirei da peixaria, aquele funcionário, rindo a bandeiras despregadas, contou a história que protagonizei a todos os outros funcionários, uns seis.