MAIS LEMBRANÇAS

Quando criança, não me lembro a idade precisa, mas foi menos de oito anos, pois minha mãe falecera quando eu tinha essa idade. Morávamos na cidade de Barreiras, município do estado da Bahia.Quando minha mãe andava comigo nas ruas de Barreiras eu sempre sentia medo da polícia,aqueles homens fardados.

Uma pergunta, o que levava uma criança ter temor de policiais numa idade tão tenra Esse questionamento me faço hoje em dia. No entanto, talvez um fato ajude a elucidar a sensação de sobressalto que eu tinha quando criança.

Certa vez eu e minha mãe estávamos andando pelo centro da cidade, na quela época a cadeia ficava em pleno coração do centro de Barreiras. Na quele instante passava um rapaz aparentando uma idade na faixa dos seus vinte e tantos anos. Ele com as calças arriadas entre as pernas, mas com um short, a calça esta suja de esterco. Dois policiais cada um segurava um dos seus braços. O rapaz andava com dificuldade, pois as calças entre as pernas dificultava ele andar. Enquanto isso, pessoas se aglomeravam para ver o preso sendo levado pelos militares.

Ao olhar aquela cena, ela foi ao mesmo tempo tocante e chocante para uma criança que nunca tinha visto aquele tipo de cenário. Eu me sentia solitário, sozinho com minha mãe, eu era criança que vivi uma grande parte do tempo sozinho, meus irmãos já eram adultos e cada um com diferentes caminhos.De vez em quando via meu irmão juvenal , mas minhas lembranças são bastantes vagas. Uma criança que não sabia o que era a figura do pai, minha mãe o dia todo para lutar e trazer o pão de cada dia. Então não seria algo extraordinário que existisse um sentimento desolação, fragilidade, insegurança.

A perspectiva com o rapaz preso nas mãos do policiais foi por demais impactante, pois poderia ter surgido naquele momento a impermanência da classe inferior em que estava submetido como o rapaz também achava-se submetido.Me sentia indefeso quanto as dificuldades sociais de minha mãe.

Quando minha mãe saia ficava preocupado com ela de ser presa, presa por ser pobre.

inclemente
Enviado por inclemente em 28/05/2021
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