A PEQUENA GRANDE JORNADA INTERNA
A semana começa em passos lentos. Literalmente, acordei com dificuldade para andar. Foi a grande aventura começar a semana sem andar corretamente. Fez-me pensar se retornei a ser aquela criança indefesa que não poderia sair do colo da mãe com medo de cair. Sinto-me perdido nos momentos mais complexos, eu diria, ou quiçá, a mim falta maior teor de tato para lidar com determinadas situações. Sou intenso, inquieto e passional quando ponho no chão o senso de realidade.
Impressionante quando certas fases de nossas vidas costumam nos visitar, ainda representadas por enfermidades. Parecem mitologias cotidianas a absorver cada pedaço dismórfico das nossas emoções. Tolices a parte, percebi a desaceleração acompanhar o voltar nos recomeços semanais. Desde sempre prontos ao desafio implacável, cada narrativa particular de nossas percepções são arquétipos ferrenhos da não consciência do mundo a nos abençoar com sua ausência. Sim, o mundo nos abandonou e estamos adormecidos.
Insone sonhador o outro eu que habita nos confins da minha mente. Nesse jogo de xadrez eterno entre persistir e não conter o impulso, percebo que também posso estar adormecido sem imaginar o perigo a se aproximar constantemente. Sempre confiei nos instintos, ou melhor, os filtrei, e esse tem sido alguns dos erros frequentes, pois quase sempre estava certo diante desse fenômeno chamado intuição. Naturalmente enganamos nossas próprias versões.
Passo a passo comecei a andar, mesmo com os espinhos metafóricos a doer meus pés, as minhas pernas começaram corresponder aos comandos cerebrais. Talvez seja fruto das ilusões ao acreditar estar insone quando na verdade a prisão esteja pronta para nos devolver ao seu mar que inunda toda a beleza interna constituída de poesia pelas nossas mãos livres dos olhares de reprovação. Vitória mesmo é poder correr num mundo onde só engatinha, ainda que sejam pessoas adultas.
No fim do dia só pensei em como a semana seria cansativa. Tudo bem, não há cansaço representativo aguçado quando sua consequência é a existência. Estamos pensativos ao extremo, e a nossa jaula abre a cada pequeno pensamento a nos desamarrar das correntes. Nossa guia é a consciência tranquila do amanhã. Sobrevivência significa resistir apesar das consequências.