FORMATURA

A solenidade do ato se media pelas vestimentas caras e penteados extravagantes.

Alguns penteados, de tão extravagantes, até pareciam cabelos despenteados. As roupas, pelo seu tom extravagante, pareciam estar amassadas.

Mas tudo isso era considerado alta costura ou alto padrão estético (na verdade era tudo somente ostentação!).

O ato solene era de uma formatura.

Uma turma de formandos de uma Universidade Federal.

Poderia ser de qualquer cidade do Brasil, mas era duma cidade do interior de Rondônia.

Na realidade foi em Rolim de Moura que o fato se deu.

Uma cerimônia de formatura implica em formalidades, mas não necessariamente formalismo. Acontece que aqueles formandos preferiram o formalismo ostensivo. Não que ela fosse necessária pois o necessário era somente a cerimônia de formatura - que poderia ser simples. Além disso, devia ser uma cerimônia alegre, descontraída, vibrante, com uma turma que, pelo entrosamento durante os vários anos do curso, marcaria não só a universidade como também as ações desenvolvidas depois da formatura, no exercício da profissão.

E assim aconteceu!

Todos preparados, paramentados, becados, transpostos para um tempo ignorado, com aqueles paramentos antiquados, postaram-se empertigados, perfilados, enfileirados para ouvir a lenga-lenga dos discursos inócuos.

Tudo isso se fez, para o bem do formalismo. Até que lá pelas tantas alguém se lembrou de que a cerimônia não era de enterro, mas de encerramento de curso.

Era uma cerimônia para marcar uma conquista e não uma derrota.

E conquista se comemora na alegria, na vibração!...

E não é que o dito cujo, em meio ao climatério de solenidade formal, começou a tentativa de provocar riso. Um assovio aqui, uma piscadela ali, um sarrinho de um, um comentário humorado de outro...e de repente a formalismo começava a se descontrair.

Mas estávamos em Rondônia, uma região calorenta!

Os formandos, paramentados para o ato solene, vestiam, além das roupas extravagantes e caras, aquelas antiquíssimas becas, completamente sem propósito. Relíquias de um tempo que já se perdeu na história, transpostas, feito arremedo, de uma região fria... Aliás a beca recorda a obtusidade da gravata e do terno - que podem até fazer a elegância de alguém, mas é completamente fora de inserção cultural.

(Imagine o absurdo do fenômeno: o sujeito veste um terno e sente calor. Mas em vez de tirar o terno calorento instala um aparelho de ar condicionado em sua sala, para ter a sensação de que está na fria Europa. Fica, assim em duas situações ridículas, além de respirar ar contaminado pelo condicionador... Mas quem é que pode contra a industria da propaganda?)

Em tudo isso, além do tempo perdido nos discursos, os formandos já estavam extenuados, suados: na verdade já era possível sentir perfume de gambá, de desodorante vencido e outros odores impróprios.

Foi então que alguém soltou esta, em pleno discurso do magnifico reitor, soltou aquilo que provocou a maior onda de riso que já se ouvira naquele ambiente suntuoso...

Na realidade não soltou aquilo que poderia aumentar o odor de impureza do ar, malcheirando-o ainda mais. Ele simplesmente tocou o ombro da garota que estava a seu lado e disse, em tom baixo, mas suficientemente alto para alguns colegas ao lado pudessem ouvir:

- Não vou te mostrar agora, mas você sabia que tem um lugarzinho do meu corpo, cheio de pelos pretos, meio enroladinhos, que está escorrendo suor?

A pudícia da garota lhe recomendou que ficasse vermelha, imaginando que aquele despudorado pudesse estar se referindo a alguma parte indiscreta do corpo. Na verdade, não fosse a solenidade do local, do ato e do momento, ela teria soltado um palavra, altamente indelicada e adequada a quem se sente ofendida.

Mas, antes que ela completasse o que estava pensando em fazer, ele completou:

- Calma! Calma! Estou falando do sovaco! Sabe, estou com o sovaco todinho suado... e está escorrendo suor…

Neri de Paula Carneiro

Rolim de Moura – RO

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