A angústia das escolhas
Soren Kierkegaard (1813 - 1855) escreveu livros que deu à ele dois títulos: o de filósofo e de teólogo. Ele inaugura a chamada filosofia da existência, também conhecida com existencialismo, que terão como seguidores posteriores nada mais que filósofos como: Jean-Paul Sartre, Albert Camus, Martin Heidegger, Karl Jaspers entre outros. Para Kierkegaard, a relação do ser humano com o mundo, com outros seres humanos e com a natureza, é dominado pela angústia. O entendimento que o filósofo faz de angústia se relaciona com o sentimento profundo que todos nós temos em relação a instabilidade da vida. Quando tomamos consciência de que a vida não tem qualquer garantia. O mundo é um lugar de acontecimento possíveis, por isso mesmo, a vida é marcada por inquietação e desespero uma vez que nada está garantido ao que foi planejado. As expectativas criadas que cada pessoa faz de sua vida, não tem qualquer garantia que sejam realizadas. Como fazer as escolhas corretas para vida? Qual a melhor decisão correta que devemos tomar? Para o filósofo, este estado de incerteza diante das situações da vida nos causa medo e angústia. A própria fé em Deus, diz Kierkegaard, é uma decisão que nos exige uma espécie de "salto no escuro". A fé envolve risco, ela não é uma escolha racional. A fé é um escolha solitária, por isso mesmo, ter uma fé é uma decisão angustiante. A experiência da fé para Kierkegaard, não tem nada haver com ir a igreja e ficar cantarolando e louvando, ou mesmo, ficar discutindo dogmas. A experiência da fé em Deus tem haver com uma escolha sem resposta (por parte de Deus), por isso, é uma escolha silenciosa e solitária que o filósofo chama de "salto na fé". De acordo com o filósofo, o ato de acreditar em Deus é por si só uma escolha solitária de cada indivíduo baseada numa confiança absoluta em Deus, mesmo diante do silêncio dele. Ou seja, é uma fé sem a teologia da retribuição divina. O fato de alguém acreditar em Deus, lançar uma fé cega nele, um "salto na fé", não significa que Deus tenha qualquer dívida com quem acredita nele. Deus nada deve a quem nele acredita. Por isso mesmo, a fé é um salto no escuro e também causa angústia. A fé não elimina a angustia. Para Kierkegaard fazer escolhas é uma condição humana, daí toda a angustia de viver. Segundo ele, não existe nenhuma predeterminação sobre como cada ser humano deve ser ou viver a sua vida. Por não sermos predeterminados, a existência humana é livre em meio as possibilidades de ser. Estas possibilidades indeterminadas tornam as escolhas um risco, uma experiência sem garantias e, por isso mesmo, geradoras de angústias. Segundo Kierkegaard, a angústia não é só este estado do silêncio de Deus com o ser humano, mas também o sentimento de abandono que o ser humano tem diante do universo e de que a vida não tem uma direção ou destino, ao contrário, a vida parece ter um percurso cego. Por isso, a vida humana é sempre uma existência angustiante. A biografia de Kierkegaard é marcada por dúvida e angústia em relação as escolhas que ele deveria fazer e que o afetou de forma definitiva. Sua biografia se metamorfoseou em uma filosofia existencial. Ele fundou a filosofia da existência.