FALSOS OÁSIS

O sucesso tem gosto espesso, suado, aguardado. Suas membranas abrigam calos indeléveis e fartos mistérios. O caminho para o sucesso é repleto de ciladas e falsos oásis. Quem pretende se untar dele, deve ter a resiliência dos burros de carga e a astúcia dos anjos mais espertos de Deus. O sucesso é traíra, ingrato, mal agradecido. Não se faz de rogado e nem, tampouco, se rende ao canto da sereia. O prazer do sucesso dura aqueles sagrados minutos que o alpinista usufrui ao chegar no topo do Everest, pois sabe que terá que enfrentar os infinitos riscos da volta ao chão. Os braços do sucesso são fartos, anônimos e absurdamente aquecidos. Têm ranhuras nas quais estão esculpidos todos fôlegos roubados, todas derrapadas cravadas na alma. Dá gosto se lambuzar num sucesso e entreter seu tremular, seu gozar, seu trepidar. Dá gosto se refastelar num sucesso vasto, desnudo e verdadeiro. Só quem se propôs a tocar seu manto terá a dimensão da sua voz, do seu cantar, do seu mais lindo sorrir.