O PREÇO PAGO...
Numa de suas palestras habituais, desta feita proferida no salão nobre do ABEC, o Avante Brasil Esporte Clube, situado no município de Esperançópolis, versando sobre a decadência do mercado de trabalho do mundo contemporâneo, o Prof. Pedro Paulo Boa Sorte da Silva fez alusão a um velho adágio popular que afirma que "quanto mais velho for o coco mais consistente será o seu óleo."
Questionava aquele mestre, versado em Filosofia, que na vida profissional do ser humano moderno deveria ser assim também: "quanto mais velhos e mais experientes fossem os profissionais dos nossos dias, mais oportunidades, mais perspectivas profissionais e ofertas de trabalho ser-lhes-iam proporcionadas."
Ele afirmou, naquele momento, que o homem contemporâneo, seja ele um bom profissional ou não, que estiver com a idade um pouco avançada estará fadado a amargar as constantes recusas e preconceitos emanados dos detentores da mão-de-obra do mercado de trabalho, os quais, por uma questão meramente econômica, preferem os profissionais jovens, em início de carreira, aos idosos com um pouco mais de bagagem profissional, evidentemente.
Prosseguindo com sua preleção, ele fez algumas perguntas aos seus alunos e alguns convidados especiais ali presentes:
- Na opinião dos senhores e senhoras aqui presentes, qual seria a faixa etária mais produtiva? A de um jovem ainda nos primórdios de sua formação profissional ou a de um profissional adulto (acima dos QUARENTA anos) com uma VASTA experiência profissional no mercado de trabalho do mundo contemporâneo?
- O que se considera de fundamental importância para a economia do nosso país? A força de trabalho do jovem profissional iniciante no mercado de trabalho ou a do adulto experiente, vivendo o ápice de sua carreira?
Lá do meio daquela multidão, meio atônita com tantas exigências para com o mercado de trabalho, tanto para o profissional experiente quanto para o futuro profissional, questionou uma jovem que havia concluído o curso de Administração de Empresas numa faculdade local:
- Que futuro reserva o mercado de trabalho contemporâneo para o jovem recém-formado, em se considerando a atual carência de emprego pela qual passa a nossa economia?
- Quais são as possibilidades de acesso ao mercado de trabalho para aquele jovem que detém apenas o conhecimento oferecido pelo ensino fundamental e médio, sem ao menos ter conseguido fazer um curso profissionalizante?
- Será que eu e os demais jovens de minha faixa etária, recém-formados ou não, teremos de conviver com tudo isso de forma pacífica, sem ao menos podermos opinar e/ou sugerir algumas mudanças?
- Será que não estaria havendo um pouco de desatenção por parte dos "homens" que têm o poder de decisão, sendo que isso tem se tornado em um grande entrave para a vida profissional do trabalhador iniciante?
O Prof. Boa Sorte, meio preocupado com a bateria de perguntas que acabara de ouvir, respirou fundo e procurou respondê-las uma de cada vez, sem deixar espaço para uma eventual dúvida.
Atendendo à sua primeira pergunta, tenho a dizer-lhe que ela é bastante oportuna, em se considerando o atual momento de mudanças em que ora vivemos. O jovem trabalhador detentor de um diploma de nível superior vive um verdadeiro dilema. Às vezes, ele até encontra algum emprego, com remuneração compatível com a sua formação acadêmica, mas ele esbarra numa exigência que é peculiar a toda espécie de seleção de pessoal: a experiência profissional.
Noutra situação, a experiência profissional não lhe é exigida, em contrapartida, a remuneração é bem abaixo daquela que é oferecida para os demais empregos da área de sua formação profissional.
Por fim, numa situação mais extrema, e pior que tudo isso que acabei de falar, o recém-formado é contratado para trabalhar em atividade que nada tem a ver com a sua formação profissional, obrigando-o a se adequar àquela nova profissão que iria exigir-lhe uma rápida realização de um novo curso superior, se quiser continuar trabalhando.
Em suma: o profissional recém-formado nem sempre consegue um emprego compatível com a sua formação acadêmica e para não sobreviver da realização de "bicos" aqui, ali e acolá, ele se sujeita a aceitar a primeira oportunidade de emprego que lhe surge à frente e seja lá o que Deus quiser...
Quanto à sua segunda pergunta, posso assegurar que o que lhe disse respondendo-lhe sua primeira pergunta, também se aplica ao jovem que detém apenas o conhecimento de nível fundamental e médio, mesmo aquele detentor de um curso profissionalizante. Neste caso, são resguardadas, evidentemente, as devidas proporções no que tange ao seu conhecimento múltiplo relativo a outras áreas de maior competitividade no mercado de trabalho.
Na sua terceira pergunta, você quer saber se tanto você, quanto os demais jovens de sua faixa etária, terão de conviver de forma pacífica com tudo isso que está acontecendo, sem dar opiniões ou sugerir mudanças. Eu entendo que não. O simples fato de você ter consciência das carências existentes em termos de ofertas de emprego para os jovens detentores de conhecimentos de nível fundamental, médio e superior já lhe habilita a procurar o elo seguinte dessa grande corrente que deverá ser formada a partir de então e tornar público e notório o seu desejo veemente de lutar por novas mudanças nesse sentido. Já dizia o grande compositor da música popular brasileira, Geraldo Vandré, que "...quem sabe faz a hora, não espera acontecer...". E você sabe que pode fazer algo no sentido de ver esse quadro mudando para melhor. Mexa-se, não faça como a sucuri que por ficar à espera de sua presa, QUASE acabou morrendo de fome...
Quanto às suas suspeitas de estar ocorrendo uma eventual desatenção por parte dos "homens" que têm o poder de decisão, retratada na sua quarta pergunta, eu entendo que elas fazem sentido. Por outro lado, eu entendo também que isso só está acontecendo porque nós (eu e você) somos coniventes, ou seja, nós permitimos que pessoas sem nenhum comprometimento com nossas comunidades sejam eleitas e, às vezes, até reeleitas, e realizem apenas e tão-somente aquilo que irá resultar em novos votos para o seu partido numa próxima eleição.
Quanto às dificuldades enfrentadas pelo trabalhador que já está com a idade um pouco avançada, lamento dizer que o leque de atuação dessa enorme classe laboriosa se torna cada vez mais restrito, mormente quando se trata das dificuldades enfrentadas pelos idosos em geral, sejam eles trabalhadores ativos ou alguns inativos que necessitam exercer alguma atividade extra para complementar sua parca renda mensal.
Por fim, a pergunta que não quer calar, é:
- Haverá alguma chance de mudanças positivas, em curto e médio prazo, no tocante ao que acabamos de comentar? Se a resposta for sim, parabéns. Contudo, é mister que seja retirado logo, de preferência, com vida, esse coelho que se mantém guardado a sete chaves, numa cartola imaginária da nossa economia de mercado...