*Carta a uma mãe

Carta a uma mãe.

Um dos meus maiores senões como cristão é não ser mariano, como se isso fosse possível. Ainda assim, gosto imensamente de Nossa Senhora em três denominações: Guadalupe, Vitória e Domina Nostra Auxilium Christianorum (Nossa Senhora Auxiliadora). Pela sua importância na história da salvação, causa-nos surpresa como transitou na Bíblia com absoluta discrição, embora esteja presente nos momentos mais importantes: no primeiro milagre, durante as bodas de Caná, na crucifixão e em Pentecostes.

Uma mulher que amo muito e que tem um filho com nome de apóstolo, disse-me, certa vez, ser uma mãe sem atrativos. Comum entre as comuns. Que não tinha nada de especial. Por muito pouco, não disse ser uma mãe chocha.

Mesmo para quem não tem faro de elefante, nem olhos de águia, como é o meu caso, aquela declaração surgiu como uma bomba. Muitas pessoas são especialíssimas na simplicidade e um excelsior exemplo é o de Mírian, mãe do Salvador.

Maria de Nazaré era contada entre as simplórias, sem atrativos, mulher de um carpinteiro. Não usava minissaias, rímel, cílios postiços, blusas decotadas, biquíni fio dental nem frequentava academias. Não tinha arroubos nem afetações. Apesar de sua simplicidade, recebeu do Anjo Gabriel a saudação dedicada aos imperadores: (Ave César!)… Ave Maria!

As mulheres simples têm uma auréola diferenciada e, quando se tornam mães, mesmo simples aos olhos do universo, se transformam. A singeleza não é demérito, demérito é não ver o fulgor da simplicidade.

A maternidade é um selo divino. Imprime na mulher um múnus de caráter único, permanente e indelével de soberania, amor e justiça, que lhe permite guiar, corrigir e educar, mesmo que ela não tenha formação acadêmica ou escolaridade elementar.

A leoa é robusta, atlética, veloz, elegante, valente e é a rainha do "pedaço". É caçadora por excelência. Caça para alimentar os filhotes e o marido que guarda os filhotes, enquanto ela vai à caça.

Ao contrário da leoa, a galinha é a mais simples e indefesa das aves. Não voa, não sabe nadar, não tem garras, sem esporões agudos, enxerga pouco, tem um canto apavorante, não foi feita para a caça e não manda nem no seu galinheiro. No entanto, para defender a ninhada ou a um só, ela se transforma numa águia. Uma dessas quase me deixou com um olho vazado, quando, certa vez, tentei pegar um de seus pintinhos. Enfrenta serpentes de qualquer tamanho, destroça gaviões (vide no YouTube), não teme nenhum dos animais.

Mães galinhas são especiais. Mãe que, acuada diante de um bandido armado, é capaz de defender seu filho com a bravura de um Netuno enfurecido. Mãe que, por falta de outro filho, joga futebol com o filho único, sem sequer imaginar que essa brincadeira tão inocente lhe faz correr riscos inimagináveis, como torcer um pé, estourar um menisco ou sofrer um estiramento ou contratura muscular. Ainda assim, ela estará lá, superando as limitações e enfrentando perigos, pois não abdica do que julga ser seu dever.

Mães leoas vivem para vencer, isso é próprio da sua natureza. Mães galinhas vencem, porque precisam viver. Isso é da sua têmpera, da sua índole. Ou vai ou racha!

Não sou de escrever sobre os assuntos da moda ou do dia, a menos que perpasse pela obliquidade do sentido. Hoje, no entanto, tornou-se imperativo.

No dia das mães, dedico-lhe esta crônica simples, como uma galinha sem pintos, no afã de que corresponda a um caminhão de abraços apertados e crendo que, através de você, estarei homenageando todas as mães, sejam elas Mírians ou Elisabethes, leoas ou galinhas.

(Dedicada à Lena Lustosa)

                            Aracaju-SE., 09/05/2021