Crônica do Mau (do Mauricio): Sobre Perdão

Assisti um programa há um tempo atrás na televisão que mexeu tanto comigo que, me marcou tanto que decidi escrever algo, pois fiquei impressionado sobre o tema.

Na realidade não foi bem sobre o tema central da entrevista.

Essa é a mágica da vida e do aprendizado quando nos dispomos a aprender!

A estarmos abertos a aprender!

O tema era relevante, diria até chocante!

Mas o ensinamento não veio do cerne da questão toda!

No final a apresentadora lançou uma frase de sabedoria que me impactou enormemente.

Foi como se um bate estaca batesse violentamente na minha cabeça sem dó!

Aquela frase teve um impacto tão grande!

E de uma forma tão saudável, simpática!

Eu quis vir aqui divulgar esse conhecimento que adquiri.

Afinal de contas, acredito e defendo que o conhecimento seja algo que devemos divulgar, compartilhar para o bem geral e não individual.

A frase em questão versava sobre perdão obviamente, mas não é tão simples assim.

Quero posicionar a vocês um pouco mais no contexto da coisa, e de como eu me senti.

O programa era da famosíssima Oprah Winfrey( é uma apresentadora, jornalista, atriz, psicóloga, empresária, repórter, produtora, editora e escritora norte-americana, vencedora de múltiplos prêmios Emmy por seu programa The Oprah Winfrey Show, o "talk show" com maior audiência da história da televisão norte-americana).

Ela entrevistava duas irmãs gêmeas que corajosas foram ao programa da Oprah falar sobre anos que sofreram de abusos sexuais por parte de seu pai (vejam, do pai delas, não de padrasto!) e de dois irmãos mais velhos, diariamente durante cinco anos, e com a conivência total da mãe.

Um assunto altamente revoltante no mínimo!

Vejam que o assunto de estupro é tão sujo, reprovável, nojento, inexplicável, hediondo que aqui nas prisões brasileiras por exemplo se um estuprador é condenado, ele tem que ser separado dos demais, senão é morto pelos próprios companheiros de cela. Até criminosos não aceitam estupradores.

Volta e meia quando tem rebelião, eles aproveitam e matam, cortam a cabeça, empalam estes estupradores.

As moças em questão no programa pareciam ter cerca de 18 anos e foram violentadas pelo pai e pelos dois irmãos mais velhos desde que elas tinham 8 anos até aproximadamente 14 anos, quando acabaram por contar para uma vizinha que chamou a polícia e fizeram o flagrante.

O pai dela e os irmãos foram condenados e estavam presos.

A mãe, que era conivente, ficou presa somente por 10 dias (ao meu ver, um erro gravíssimo, deveria ficar mais tempo presa, pela conivência que a faz ser cúmplice).

E a entrevista foi toda dramática como não podia deixar de ser, emotiva.

As moças, a gente percebia que tinham nelas marcas emocionais, traumas que teriam que ser tratados com muita terapia.

Traumas profundos!

Vejam bem, sofrer violência é complicado!

Sofrer violência sexual, mais ainda!

E sofrer violência sexual, dentro de sua casa, com consentimento de sua mãe!

Imaginem! Ou tentem!

Imaginem a cabeça dessas moças.

E acreditem, elas se sentiam de uma certa forma culpadas por desagregarem a família, ao denunciarem a situação. Confusas com a situação!

Afinal ali estavam a figura do seu pai e sua mãe!

Que todo domingo as levavam à igreja!

Imaginem a cabeça delas!

Você que está lendo aqui deve estar pensando a mesma coisa que eu: que doideira!

Que absurdo!

E elas de uma certa forma estavam em conflito!

Demoraram para denunciar os pais!

No programa dava pra perceber que elas não queriam mais saber do pai e da mãe e nem dos irmãos.

Que elas estavam extremamente abaladas com tudo aquilo!

E vejam, deve ter passado aproximadamente cerca de 5 anos desde que parou a violência, quando vi o programa.

Aí entra a questão justamente do perdão.

Dá para perdoar?

Você perdoaria?

Perdoaria a mãe? Os irmãos? O pai?

Complexo, não é?

O perdão numa cultura religiosa é muito falado, mas dá para cobrar, exigir perdão no caso delas? Dá?

Como dizem, quem dá o tapa esquece, mas quem tomou o tapa, nunca esquece!

Tem gente que não perdoa uma coisa boba, simples, fútil... como exigir delas que perdoem um ato desses?

Complexo, não?

Para terem uma ideia do quão complexo, um dos irmãos quando preso e sob interrogatório disse que naquele Estado era permitido pela Lei. Ou seja, ele foi ludibriado pelo pai. Foi levado a acreditar que aquilo era legal, normal!

Ele acreditava ser normal!

O outro irmão, um pouco mais novo, quando preso, respondeu: "como errado, se meu pai fazia?"

Não que isso tirasse a responsabilidade deles (afinal ambos irmãos foram condenados a penas menores, mas foram condenados...ambos vão sair da cadeia em condicional quando tiver aproximadamente 40 anos...o pai não vai sair...).

Aí eu pergunto em relação às religiões, ao humanismo em geral: como analisar o perdão?

Será que conseguimos perdoar?

Será que é normal perdoar?

Será que estamos preparados para perdoar?

O que fazer então?

Pesquisando livremente na internet sobre o tema perdão, e encontrei essa explicação:

"O perdão é um processo mental ou espiritual de cessar o sentimento de ressentimento ou raiva contra outra pessoa ou contra si mesmo, decorrente de uma ofensa percebida, diferenças, erros ou fracassos, ou cessar a exigência de castigo ou restituição."

O perdão pode ser considerado simplesmente em termos dos sentimentos da pessoa que perdoa, ou em termos do relacionamento entre o que perdoa e a pessoa perdoada.

É normalmente concedido sem qualquer expectativa de compensação, e pode ocorrer sem que o perdoado tome conhecimento (por exemplo, uma pessoa pode perdoar outra pessoa que está morta ou que não se vê há muito tempo).

Em outros casos, o perdão pode vir através da oferta de alguma forma de desculpa ou restituição, ou mesmo um justo pedido de perdão, dirigido ao ofendido, por acreditar que ele é capaz de perdoar.

O perdão é o esquecimento completo e absoluto das ofensas, vem do coração, é sincero, generoso e não fere o amor próprio do ofensor. Não impõe condições humilhantes tampouco é motivado por orgulho ou ostentação.

O verdadeiro perdão se reconhece pelos atos e não pelas palavras.

Existem religiões que incluem disciplinas sobre a natureza do perdão, e muitas destas disciplinas fornecem uma base subjacente para as várias teorias modernas e práticas de perdão.

Normalmente as doutrinas de cunho religioso trabalham o perdão sob duas óticas diferentes, que são:

- Uma ênfase maior na necessidade das faltas dos seres humanos serem perdoadas por Deus;

- Uma ênfase maior na necessidade dos seres humanos praticarem o perdão entre si, como pré-requisito para o aprimoramento espiritual.

Pois é, vejam que sob a ótica filosófica, psicológica, religiosa doutrinária ou não, ou se preferir, espiritualmente falando, perdão é um assunto, uma questão por demais complexa, contraditória, controversa, difícil mesmo!

Principalmente para quem sofreu a violência, o tapa na cara, a injustiça, o furto, o roubo.

E tem mais uma dificuldade: nos perdoarmos!

Aí fica difícil!

Será que conseguimos nos perdoar?

É aí que entra de novo a maravilhosa Oprah, com uma frase que disse àquelas duas moças conflitadas, sobre o perdão, com o intuito de ajudá-las a "seguir em frente", que mexeu comigo (mais que o tema em si da violência) e me fez vir aqui escrever, pois esse conceito de perdão que foi bárbaro para dizer o mínimo:

" Perdoar, não significa que aceitaremos uma pessoa de volta!

Perdoar, não significa que aceitamos, que concordamos com o que ela nos fez!

Perdoar, não significa exatamente que iremos conviver novamente com quem nos fez algo anteriormente!

Perdoar é abrir mão da esperança de que o passado poderia ter sido diferente.

Perdoar é seguir em frente!

Perdoar é libertar-se!"

Não sei onde a Oprah ouviu isso, que Mestre disse isso, mas quem disse isso é um Sábio!

Trouxe um significado expressivo para mim sobre perdão!

Não paro de pensar nisso!

De refletir sobre isso!

Me fez um bem enorme!

Espero que te dê um novo direcionamento, assim como a mim deu!

Pois me senti livre...

Que o perdão, assim como a gratidão seja uma prática em nossas vidas!

Não da boca para fora, mas com atitudes!

Vamos tentar?

Finalizo com a oração do Hoʻoponopono que pode nos ajudar nessa cura:

"Sinto muito! Me perdoe! Te amo! Sou grato!

Ho'oponopono é uma oração ou mantra composto de 4 pequenas frases, que promete livrar o coração de mágoas e recordações infelizes, exaltando o perdão, o amor e a gratidão.

Estas pequenas frases integram uma técnica de cura que vem da sabedoria ancestral havaiana, conhecida como Ho’oponopono.

Na língua local, “Ho’o” quer dizer cura e “ponopono” significa arrumar, corrigir. Numa tradução mais livre, podemos considerar que o sentido da técnica é corrigir um erro em nossas vidas.

HO’OPONOPONO É RELIGIÃO? Não. Por isso mesmo ela pode ser praticada por todas as pessoas, sem nenhuma restrição.

Na prática, Ho’oponopono é uma técnica nascida para ser simples.

Ela não traz regras rígidas de como deve ser praticada.

Você pode entoar as frases como mantras durante uma meditação ou pode simplesmente dizer uma ou duas vezes no trânsito, por exemplo, quando um pensamento ligado ao passado ou algum julgamento estiver novamente desequilibrando sua mente.

Eu quis aqui deixar uma sugestão da técnica havaiana de perdão chamada Ho´oponopono.

Mas não importa a técnica, a linha filosófica, terapêutica que adotar, ou até religião ou linha espiritual.

O que importa é buscar aprender, treinar e praticar o perdão!

Perdão a si!

Perdão a pessoas amadas!

Ensina a ter compreensão!

Compaixão consigo e com o outro!

Essa é a intenção aqui de investigar o perdão!

O mundo está precisando de cura!

Vivemos com altos índices de intolerância!

Intolerância gera violência!

E perdão, em algum momento é compaixão! É tolerância!

Por um mundo melhor, que tenhamos tolerância!

E perdão!

É a nossa cura! E libertação de um passado que nos corrói, nos afunda num mar de culpas!

Se liberte!

Perdoe!

Deixe ir...

Mauricio "Veeresh Das" Franchi